Opinião

O Carnaval já passou ... sem ter passado

Terceirense que se preze vive intensamente o Carnaval. Seja porque encarna um personagem cómico ou dramático, seja porque toca, canta ou baila, seja porque assiste horas a fio às nossas Danças e Bailinhos de Carnaval ou mesmo porque se delicia com uma filhós do forno com recheio de limão.
Enchemos salões. Somos foliões.
As memórias de Carnaval são deliciosas. Tem cheiros, tem cor, tem sabor. Tem uma alegria e uma energia sem igual.
Aproveitámos para rever fotografias antigas das nossas fantasias de infância e dos nossos filhos e para assistir a vídeos de bailinhos de anos passados. Mas a verdade é que nada consola uma alma sedenta de sair à rua por alturas do Carnaval.
Este ano o Carnaval hibernou. Passou sem ter passado. Passamos do Natal para a Quaresma, sem passar pelo Entrudo.
Neste contexto, dou boa nota à iniciativa da Direção Regional da Cultura "Carnaval com Sabor a Saudade" que deu voz a alguns dos principais protagonistas do Carnaval Terceirense: o Alcino Ornelas, o João Mendonça, o Hélio Costa, a Sara e a Leandra Mota, a Eduarda Reis, o Fábio Ourique, o Patrício Vieira, entre muitos outros. Iniciativa que valoriza o que temos de mais nosso, a nossa Cultura.
Mas as dificuldades dos nossos agentes culturais não se ficam pelo Carnaval que passou sem ter passado. Nem a nossa Cultura é só Carnaval. A verdade é que no último ano a larga maioria daqueles que se movem no meio cultural atravessam grandes dificuldades. São os espetáculos que não se realizam, as bilheteiras que se perdem, as tocatas que não acontecem.
E foi considerando essas frágeis condições de instabilidade económicas e sociais que o sector enfrenta que os deputados do Partido Socialista dos Açores apresentaram uma proposta de criação de um Programa de Apoio Extraordinário à Cultura que prevê a atribuição de apoios de 2.500€ e 10.000€, para pessoas singulares e para pessoas coletivas, respetivamente, e que se determina em função da diminuição da receita registada no último ano. Mas não ignora as necessidades emergentes dos profissionais da cultura, propondo um apoio equivalente a uma vez o Indexante dos Apoios Socias por cada trabalhador independente. Por fim, considera ainda a atribuição de Bolsas de Apoio à Criação Artística Regional destinadas a promotores, produtores e agentes culturais, entre 7.500€ e 15.000€.
Sobre este assunto, fica a crítica: não havia necessidade da Direção Regional da Cultura ir a correr, dois dias depois do PS apresentar a sua iniciativa, publicar um regulamento de apoios só para tentar chegar primeiro. Mas como a pressa é inimiga da perfeição, deixa a descoberto aspetos determinantes para a sobrevivência deste sector. Não havia mesmo necessidade.