Opinião

Um número, algumas contradições e muito transformismo

Ontem, um mês após as eleições, tomou finalmente posse o “novo” governo. Bolieiro, após vetos, cedências e afins aos outrora críticos contundentes e agora amnésicos defensores de circunstância, apresentou um elenco que não chega a ter estado de graça. Exigem-se, para o ontem, resultados. E não são uns resultados quaisquer. Bolieiro precisará de sol na eira e chuva no nabal. Mas esse dar com uma mão para cumprir a vontade de uns e tirar com a outra para agradar a outros ficará para o tempo oportuno. E, olhando para a salgalhada de posições antagónicas entre si, não faltarão oportunidades. Hoje, para assinalar o pontapé de saída num novo tempo na política açoriana, ficarei pelo significado popular de um número, passarei de seguida por uma máxima famosa no mundo da bola e terminarei com um lapsus linguae de Bolieiro e que assenta bem nos capítulos que se seguirão. Ora vejam:


1. Número 13
O XIII Governo dos Açores é composto pelo Presidente, um Vice-Presidente, dez Secretários e um Subsecretário. Temos, portanto, um governo, o 13.º, com 13 membros. O número 13 é considerado, por uma grande parte da população, o número do azar. Existe até pessoas com um medo irracional e incomum do número 13 (tecnicamente denomina-se “triscaidecafobia”). O governo de Bolieiro, felizmente, não padecerá de tal fobia. No entanto, à cautela, sugiro que as reuniões do conselho do governo sejam efetuadas em duas mesas. É que este governo integra um Vice-Presidente cujo partido se orgulha de ser de inspiração democrata-cristã e, por isso, inconscientemente poderá andar sempre de cabeça no ar em busca de um qualquer Judas…

2. Tributo a Pimenta Machado
Pimenta Machado foi um histórico (por bons e menos bons motivos) presidente do Vitória Sport Clube (Guimarães) e que um dia, confrontado com o facto de ter feito exatamente ao contrário do que havia dito uns escassos tempos antes proferiu a seguinte frase: “No futebol, o que hoje é verdade amanhã é mentira.” na génese dessa frase estava a venda do passe de um jogador que tinha sido dado por ele como intransferível. Ora bem, no governo de Bolieiro esta velha máxima encaixa na perfeição. Aquela parte dos discursos dos 5, curiosamente, das poucas em comum entre todos eles, onde estavam escritos bonitos trechos relativos à imperiosidade da desgovernamentalização, despartidarização, despolitização, desburocratização, diminuição de cargos políticos, etc… etc… culminou no maior, mais partidário, mais político e mais complexo executivo regional. Para início, a coisa promete…


3. Transformistas e depois sim… reformistas
José Manuel Bolieiro, na qualidade de presidente indigitado, em declarações aos jornalistas, à saída da audiência com o representante da República para os Açores, após entrega do documento com a composição do próximo Governo dos Açores, cometeu um lapsus linguae que, na verdade, tem pouco de lapso. Diz o povo que, por vezes, “foge a boca para a verdade”. A referência inicial à necessidade de “sermos transformistas”, posteriormente alvo de tentativa de explicação, mais não foi do que uma reminiscência de uma das “sentenças” opinativas de Paulo Estevão: Bolieiro representa a antítese do reformista! Estevão que, recorde-se, em plena campanha eleitoral, rejeitou, na RTP-A, uma coligação com o PSD, dizendo que “Bolieiro não reunia, a nível pessoal, as condições para ser Presidente do Governo”. Assim, de facto, reformistas só após conclusão com sucesso de delicadas operações de transformismo político...