Opinião

As fraquezas de uma governação 3+2

i. Génese

A AD-Açores, cujo epíteto é por si só anedótico e, acima de tudo, atentatório da memória e legado de Francisco Sá Carneiro, nasce com base na única coisa que une extremistas, liberais, monárquicos, democratas-cristãos e sociais-democratas: o ódio ao Partido Socialista! Antes mesmo de se iniciar qualquer negociação – a 2, 3, 4 ou 5! – já se pressentia o salivar e o espumar nas hostes de todos os integrantes da “manta de retalhos”. Bolieiro, outrora ponderado, foi completamente engolido pela ala faminta dos soldados rasos que já vislumbravam outras patentes… Independentemente de saberem, tal como escreveu o romancista Alphonse Daudet, que “o ódio é a cólera dos fracos.”

 

ii. Indigitação

O Representante da República (RR), cujo cargo decorre de uma visão jurássica das Autonomias, decidiu, ao arrepio das funções que lhe estão atribuídas, deixar o papel de árbitro e “dar uns toques na bola”. O papel do RR era, tão somente, “nomear o Presidente do Governo Regional, tendo em conta os resultados eleitorais”. Ao esquecer os resultados objetivos (o PS foi o partido mais votado em 7 das 9 ilhas; 12 dos 19 concelhos e 101 das 156 freguesias!) e ter optado por validar um acordo (secreto?) de governação escrito com 3 assinaturas, a que se juntou mais 2 “anexos” (secretos?) de âmbito parlamentar, significa que colocou a “manta de retalhos” sobre os seus ombros. Ora, esta opção, deliberada e voluntária, significa uma inqualificável subtração da competência exclusiva do primeiro órgão de governo próprio dos Açores. O Governo Regional é politicamente responsável perante a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores! E não depende, como decorre da opção do RR, de qualquer prévio juízo político… de um órgão centralista e desprovido de qualquer legitimidade política! A indigitação está, juridicamente, em linha com a solidez política da “manta de retalhos”!

 

iii. Compatibilização

Quem, como eu, se deu ao trabalho de ler os programas eleitorais e/ou panfletos com medidas avulsas dos partidos que integram a “manta de retalhos”, facilmente conclui pela impossibilidade de compatibilização dos mesmos. Não se pode, simultaneamente, ir para norte e sul. Não se pode desgovernamentalizar e, simultaneamente, criar uma mão cheia de entidades, organismos e estruturas na órbita da administração. Não se pode liberalizar e, simultaneamente, adquirir aviões e navios para fazer o papel que ficaria para os privados. Não se pode cortar às cegas apoios sociais e, simultaneamente, criar-se outros apoios e/ou reforçar os existentes. Não se pode ser autonomista às segundas, quartas e sextas e nos outros dias ligar-se para Lisboa a pedir determinadas permissões. Não se pode ser republicano e, simultaneamente, defensor da monarquia. A “manta de retalhos” é uma autêntica quadratura do círculo. Parafraseando o Presidente Lincoln: “pode-se enganar alguns o tempo todo e a todos por algum tempo, mas não se pode enganar todos o tempo todo!”

 

iv. Traição

A dependência do Chega para a viabilidade e durabilidade da “manta de retalhos” da governação 3+2 é a marca de água do próximo Governo. Bem pode, via Twitter, o dr. Rio dizer que o Chega não integra o governo dos Açores. A verdade, nua e crua, é que sem o Chega a “manta de retalhos” ficaria curta. O n.º 29 só se atinge com o Chega. Esta abertura de portas ao Chega, por muito que se comece a suavizar a sua matriz xenófoba e racista, não só ficará na história da liderança de Rio e do seu ex Vice, como também marcará uma nova era na política portuguesa. Esta traição à Democracia, à Autonomia e à história do PSD terá custos muitos elevados…