Opinião

Querido mês de agosto

Nestes dias de agosto, em que o sol e o mar a todos interpelam, mas em que já é possível vislumbrar o estio na linha do horizonte, dou por mim a pensar nas escolhas coletivas que temos pela frente. No bulício de um final de agosto, marcadamente irregular, sem, no entanto, deixar de evidenciar que a vida, ainda que a um ritmo diferente, corre, “pula e avança”, dou por mim a reparar no que nos dizem alguns pormenores que se destacam no mês, por excelência, da chamada “silly season”. Pormenores como, por exemplo, a forma e o modo profundamente contrastante como se nos apresentam as opções para outubro próximo. Na evidência gritante que revela a diferença existente entre aqueles que se afirmam pela positiva, com ideias próprias, com propostas concretas - das quais se pode ou não discordar - e aqueles que, pelo contrário, procuram impor-se apenas em oposição aos primeiros, sempre com a crítica fácil e imprudente na boca, sempre ávidos e desejosos de fulanizar o debate para que este deixe de ser sobre ideias e sobre projetos para o nosso futuro coletivo para passar a ser sobre pessoas, sobre o passado, ou, pior ainda, sobre pequenos casos que só acrescentam ruído e só interessam a quem não tem nada de concreto para oferecer. Por isso, querido mês de agosto, que és de férias para uns e de trabalho para outros, dou por mim a pensar quão bom seria se os próximos tempos servissem para o diálogo e a discussão democrática, sem que o pequeno ódio e a pequena frustração tomassem conta da narrativa da campanha eleitoral de alguns protagonistas. De resto, querido mês de agosto, desejo que no resto dos dias que te faltam, possas contribuir para que alguns, serenem o espírito, apaziguem as inquietações e reforcem a capacidade da sua própria coerência, lembrando-se (sempre que possível) que “(…) os Açores são a nossa certeza de traçar a glória de um Povo (…).” Este excerto do nosso Hino resume, assim, tudo o que te queria dizer, nesta noite de agosto, quente e abafada, embalada pelo cantar dos grilos na minha Fajã de Baixo, a terra do ananás. Um abraço.