Opinião

Ponta Delgada: Uma estafeta num navio a remos

Uma estafeta, segundo a Wikipédia, “designa, em atletismo, o percurso feito por vários elementos de uma equipa. Ao iniciar-se uma estafeta, o primeiro elemento, transportando um testemunho, entrega-o, em mão, ao elemento seguinte da sua equipa, e assim sucessivamente, até o último que, mantendo o testemunho com que a sua equipa iniciou a prova, cruzará a linha da meta.” Vem isto a propósito, obviamente, do que se passa no executivo Câmara Municipal de Ponta Delgada… desde que o Dr. Bolieiro fez aquele número do “saio de forma a que possa voltar jurando que não volto”. Mas, e antes de entrar no plano que me interessa (o político), cumpre, desde já, solidarizar-me com o Eng. Humberto Melo, o qual conheci pessoalmente enquanto Deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores e por quem tenho imensa consideração e estima pessoal, e a quem desejo que tudo corra pelo melhor. E, já agora, impõe-se referir que tenho as melhores referências pessoais da Dr.ª Maria José Duarte. Tal como tenho relativamente ao Dr. José Manuel Bolieiro, cuja simpatia no trato comigo é sempre assinalável. No entanto, a gestão de uma autarquia, ainda para mais com a dimensão da de Ponta Delgada, exige que às indispensáveis qualidade pessoais se aliem os atributos e competências políticas. Não é possível pôr um navio a navegar se o comandante, por não dominar minimamente os comandos à sua disposição, opta por usar… os remos. E é, exatamente, isto que tem sido apanágio da gestão autárquica em Ponta Delgada. Mandato, atrás de mandato, temos vindo a assistir a um enorme navio que teima em não passar do ilhéu de São Roque. Ponta Delgada, com as mais valias de cada uma das suas 24 freguesias, tinha todas as condições para não ser apenas um ponto de passagem. Voltando à metáfora dos navios, para deixar de continuar a ver os navios a passar. Com um orçamento global anual superior a 50 milhões; tendo um aeroporto internacional a 10 minutos do centro; um cais de cruzeiros; o principal porto comercial dos Açores; a cidade com maior dimensão populacional; com maior tecido empresarial; com maior peso no PIB; com o maior polo da Universidade dos Açores; com infraestruturais culturais; com um clube na 1.ª liga de futebol; com outros clubes nas primeiras divisões de basquetebol e voleibol; com três jornais diários centenários; etc., etc. . Mas a verdade é que todos estes argumentos, que através de uma agenda política devidamente pensada, elaborada e, principalmente, executada por quem tivesse os pés e a cabeça exclusivamente focada em colocar Ponta Delgada num patamar onde devia estar por direito próprio, não têm sido suficientes para colocar o navio em velocidade cruzeiro. Se é verdade que os eleitores têm sufragado este estilo de navegação a remos, também é verdade que a oposição, num estilo de colaboração e proatividade assinalável, tem demonstrado, quase diariamente, que há mar para além de São Roque. A meta tem de ser colocada onde a vista não alcança. Ponta Delgada não pode continuar a assistir a esta estafeta. Sob pena do navio continuar a remos e o mundo a todo o vapor.