Opinião

Espelho

De repente, virou-se o nosso mundo. Impõem-se medidas extraordinárias para circunscrever o vírus. Com sacrifício do nosso normal, da economia e da vida em sociedade. Mas a nossa sobrevivência, individual e coletiva, exige que muitos continuem a sair e a trabalhar: porque há que tratar, comer, e continuar a ter acesso a bens essenciais... E por isso mesmo os decisores têm que optar, a cada momento, suportados nos saberes, a justa harmonização entre o isolamento e as suas consequências na logística e na economia, cuja total paralisação seria suicidária. E por isso mesmo também é decisivo controlar o vírus do pânicoe do primarismo, quase sempre disfarçados em espírito de bravata. Ninguém se salva sozinho. É o sentido de dever, para connosco e para com os outros, que deve determinar os nossos comportamentos: nunca esquecendo os nossos, onde quer que estejam (porque o povo açoriano nunca tem "bicho", mesmo os que precisam de se tratar ou de isolamento profilático!; respeitando no essencial os outros, ainda que excecionalmente a saudável distância; confiando na superioridade, em eficiência e valores, do Estado de Direito Democrático, que até permite estados de emergência preventivos; não abdicando nunca da necessidade, adequação e proporcionalidade na restrição de direitos; exigindo sempre que a Democracia não se contamine e que o essencial do funcionamento dos órgãos de poder democrático nunca entre em quarentena. E assim tem sido. Da esmagadora parte dos nossos concidadãos e de todos os órgãos de poder. Porque não nos conformamos com a liberdade dos cemitérios nem com a vida dos servos. E quando isto passar, porque vai passar, seremos então capazes de suportar a imagem do espelho e dignos de repetir: "Antes morrer Livres que em Paz sujeitos".