Opinião

Desnorte total

Alexandre Gaudêncio foi eleito Presidente do PSD/Açores no dia 29 de setembro de 2018. 1716 militantes, correspondendo a 60,9% dos votos, depositaram nele a sua esperança de ver o partido voltar a ser o inquilino do Palácio de Santana. A missão, convenhamos, era difícil. Inverter uma tendência de perda que se manifesta, consecutiva e quase sempre crescentemente, desde 1996 não seria “pera doce”. Gaudêncio, de sorriso rasgado, anunciava pouco depois de conhecidos os resultados da disputa interna que vinha aí “um novo rumo”; “um tempo de mobilização para o partido de cidadãos com provas dadas”; “um tempo de união”; “um partido a uma só voz para combater o PS”; “com o objetivo de devolver a mística de vitórias” e, por fim, lá surgiu o que os companheiros queriam ouvir: “o PSD será Governo na Região Autónoma dos Açores já nas próximas regionais de 2020”. A fasquia estava colocada no máximo. O risco de o “saltador” passar por baixo da mesma era grande. Risco esse que, rapidamente, passou a certeza. A desejada (?) união interna nunca passou de uma miragem, uma vez que Gaudêncio entrou num jogo de sombras com Pedro Nascimento Cabral, José Manuel Bolieiro e Sofia Ribeiro. A equipa escolhida para integrar o executivo do partido nem chegou a ter estado de graça. As críticas internas, algumas em surdina e outras em público, não se fizeram esperar. As Europeias foram aquela tragédia que todos conhecemos, com a agravante de ter arrastado o Presidente Mota Amaral para um filme com um guião previamente estabelecido pelo líder nacional. O processo das legislativas nacionais também dava outro filme, cuja classificação não é muito recomendável. No meio de tudo isto, ainda houve a constituição de Gaudêncio como arguido; reuniões intermináveis dos órgãos e estruturas do partido; demissão de dirigentes; deserção de militantes; críticas internas contundentes e vários pedidos de clarificação interna, sendo obviamente o de Nascimento Cabral, cuja presença tem sido quase diária na comunicação social, o que mais eco e maior mossa fez em Gaudêncio. O cenário, convenhamos mais uma vez, era de uma complexidade extrema. Gaudêncio, julgávamos nós, iria aproveitar a noite eleitoral de 6 de outubro último para, à boleia do resultado mínimo alcançado (30% e 2 mandatos), demonstrar que ainda estava no controlo do jogo. Surpreendentemente, ou talvez não, Gaudêncio não deu o passo para a pretendida clarificação. Optou por não querer ver a realidade e, assim, perdeu o controlo da bola. Uns dias depois, desorientado ao perceber que a bola já estava longe demais, decide dar um sinal de vida e declarar apoio a Luís Montenegro. Foi o seu último ato político antes do que já se ouvia por aí. A demissão estava iminente. Concretizou-se no passado dia 15. Dois anos após ter chegado a líder regional do PSD. Dois anos de ausência de ideias, contributos e políticas alternativas. Dois anos pejados de ataques pessoais, incoerências e impreparação. Dois anos perdidos. Dois anos que dão razão ao histórico Presidente do PSD (Francisco Sá Carneiro) quando afirmou que “Em política, o que parece é.” Infelizmente, para os Açores. Aguardamos agora pelo mais (im)previsível dos cenários: a recandidatura de Gaudêncio!