Opinião

Um dia destes queremos votar e dizem-nos que não

Um dia destes queremos votar e dizem-nos que não, que já não é preciso, como que desresponsabilizando o cidadão do seu maior dever cívico e naquela que é uma das mais importantes formas de relação entre o cidadão e a Democracia. Numa das dezenas de campanhas de rua que o PS/Açores fez por todas as ilhas, foi na Ribeira Grande que ouvi uma cidadã afirmar que, na junta de freguesia da Matriz, foi-lhe dito que nestas eleições não precisaria votar. É petrificante. Sendo verdade ou não, o que esta manifestação regista é, desde logo, o desconhecimento do poder que esta cidadã no concelho mais jovem do país e com a maior abstenção, tal como noticiou o Público a 27 de setembro, possui. A abstenção resulta, também, porque nestes 45 anos de democracia nem sempre os políticos estiveram bem. Errou-se muito e tanto erro não se apaga em cada campanha eleitoral, mas é igualmente nas campanhas eleitorais, com honra em ser político e vergonha pelos politiqueiros, tempo de mostrar que muitos lutam por uma visão política diferente e que se afirmam, com erros é certo, mas sem os erros que mimem a confiança entre eleito-eleitor. A dias de votarmos, quero partilhar com os leitores duas notas que retiro desta campanha eleitoral nos Açores: uma de satisfação política e outra de satisfação estratégica. A de satisfação política é a de que o PS é o único partido que todos os dias esteve no terreno, ouviu as pessoas e estimulou ao voto. Milhares de quilómetros e a todos os concelhos dos Açores. Um partido que governa os Açores há 23 anos, mas não se resigna aos “corredores do poder” e não minimiza a importância do contacto de rua, da pedagogia e da valorização do poder do cidadão. Estar em contacto de rua é um ato de humildade e respeito democrático, onde os cidadãos reconhecem a colossal diferença entre o atual Governo da República do PS, que repôs rendimentos e estimulou a economia e o Governo do PSD/CDS-PP que quis ir além da Troika e mandou portugueses emigrar. É certo, sem isenção de críticas ao Governo, mas bem conscientes da diferença. A distinção entre o discurso do cidadão que se encontra na rua e os comentadores amnésicos é, igualmente, colossal. A de satisfação estratégica é a de que, contrariamente à campanha de 2016, nas centenas de crianças que encontrei, apenas duas, em idade pré-escolar, não frequentavam a creche (uma por opção e outra por aguardar vaga). Este é um claro e inequívoco sinal da mudança cultural face às políticas públicas de apoio à infância e família, por opção política de Vasco Cordeiro que não se cansa de incutir a maior e mais difícil revolução: a da disrupção cultural, que só pode ser fomentada pela educação e pela dignidade da pessoa humana. Antes que nos digam que não precisamos votar e para não contribuir para os 58,78% de abstencionistas em 2015, vamos votar no próximo domingo, dia 6 de outubro. Vamos dignificar o nosso dever cívico e valorizar o poder dos Açorianos (dando cartão vermelho a quem desvaloriza “12000” votantes e diz que não somos fortuna) na escolha dos seus cinco deputados.