Opinião

10 de Junho: cá e lá

I - Por cá Na Vila da Calheta, em São Jorge, assinalou-se mais um Dia dos Açores. Este ano, como sempre, marcado pelos discursos dos titulares dos órgãos próprios da Região Autónoma dos Açores. Do discurso da Senhora Presidente da Assembleia destacamos o arrojo do “mea culpa” público, em nome e representação dos políticos de todos os quadrantes, pelas altíssimas taxas de abstenção que temos vindo a registar nos Açores. Urge, de facto, tomar medidas. Os representantes do Povo que integram a Comissão Eventual para a Reforma da Autonomia (CEVERA) estão, seguramente, mais do que capacitados a levar avante esta missão. Mas, tenhamos sempre presente, que a dificuldade maior estará sempre na concretização do que vier a constar dos documentos legais que estão em fase de consensualização. E aí entramos todos nós. A responsabilidade é de todos. Da sociedade. Como um todo. E aqui chegados, passamos para o discurso do Senhor Presidente do Governo dos Açores. Logo nas reações partidárias que se seguiram, bem como nos diferentes órgãos de comunicação social, percebeu-se que tinha sido dito alguma coisa diferente. Mais uma vez, num Dia dos Açores, o Presidente lançou temas para a discussão pública. Só este facto já seria meritório. Mas foi dito mais. Muito mais. Foram propostas medidas concretas. A reação a estas medidas e, particularmente, ao denominado “contrato de cidadania” atesta, pela adjetivação empregue, que se está a ousar mudar. Qualquer anúncio ou intenção de mudança do “status quo” tem, à cabeça, a reação que esta proposta teve: rejeição liminar. Aguardemos, serenamente, pela concretização da proposta de contrato, pelos seus pressupostos, pela operacionalização, etc… A solução mais fácil seria nada propor. Nada acrescentar. Ou então pedir, sem mais, que os Açorianos mudem de escolha partidária. Essa mudança seria a solução para todos os problemas. Acontece que o eleitorado convence-se com propostas concretas e não com omissões e varinhas mágicas. II – Por lá Portalegre foi a cidade escolhia para, em território nacional, celebrar o Dia de Portugal. A sessão solene, não obstante os sempre brilhantes e sumarentos discursos do Senhor Presidente da República, ficou marcada pelo discurso de João Miguel Tavares, na qualidade de presidente da comissão organizadora das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A escolha do colunista do PÚBLICO, por fugir ao padrão habitual, já tinha merecido críticas e levantado alguma polémica e o discurso, como seria expectável, também tem dado azo a idêntico tratamento. As elites, refasteladas nos luxuosos sofás do poder na capital, abominam tudo o que desconhecem. O mundo real é uma dessas coisas. João Miguel Tavares, de quem muitas vezes discordamos, prestou um grande serviço no Dia de Portugal: ser porta voz dos que não conseguem ser ouvidos.