Opinião

Tenho uma carta escrita...

...mas não sei por quem a mande... É assim no Pezinho da Vila, este belo exemplo do nosso cancioneiro. Quem diria que o mensageiro se manteria no interrogativo em pleno século XXI. A saga dos CTT, parece saída de uma desta incógnita. Já não sabemos, onde, como e quando o correio servirá os cidadãos neste serviço que foi público, porque mensageiro obrigatório e essencial à transferência de bens e serviços. Face à minha discórdia no que são interesses empresariais encapotados de serviço público, em que o Estado aliena um património porque não o quis reestruturar face às novas tecnologias de comunicação, porque as cartas escritas se resumiam quase só a serviços de credores, desconsiderando-se todas as outras valências, nomeadamente as de um banco(!); até concordo que nisto tudo houve e há culpados por omissão e dolo. Mas entendamo-nos. Se assim for, há que considerar os culpados de ontem e os de hoje. Agora o que não posso concordar é que quando se quer ocultar estes culpados, se arranje um bode expiatório; neste caso o Governo açoriano, precisamente aquele que não foi ouvido nem achado para este negócio, nem para outros como foi o caso das modificações e suspensões das ligações aéreas da TAP para os Açores, nomeadamente para o grupo central, fruto de uma privatização apressada, felizmente revertida na medida do possível. Comecemos pelas lamentáveis justificações dadas pelo Presidente da Administração dos CTT, que em vez de justificar o óbvio, que é a sua política de redução de efetivos e de agências com base na obtenção de um lucro muito para lá do razoável, se mostra insensível ao dolo infligido nas populações e remete a má performance da empresa que gere também nos Açores, para problemas no transporte da carga postal. Lamentável também para o CDS-PP quando se associa a esta falácia validando escaradamente decisões lesivas dos interesses dos Açorianos. Será que o encerramento das outras agências no continente português se deve a problemas no transporte de carga postal? Parece-me que este argumento não foi usado nas queixas da suspensão e de maus serviços por serem as mesmas e até estarem a levar a administração dos CTT agora, a quererem mudar de estratégia. Regressemos então aos culpados de ontem pela privatização também apressada dos CTT. Não interessa ao CDS-PP nem ao PSD falarem desta fase obscura de privatizações em Portugal, da qual a EDP e a ANA, agora VINCI também, fizeram parte. Dão todas lucro aos acionistas e os CTT também têm que dar. O que não dão são mais valias aos portugueses que as suportaram sempre. Se a oposição quer reclamar, devia fazê-lo à porta dos acionistas, dos ministros e Secretários de Estado de então e não à porta do Governo regional, nem atirando poeira aos olhos dos açorianos. Os culpados de ontem foram eles e os culpados de hoje são, não só os que se estão nas tintas para obrigações de serviço público como o caso da Administração dos CTT, mas também os que continuam a achar que este modelo empresarial para serviços públicos é o melhor. Vão tirando de cá o pezinho, devagar devagarinho!... por isso é bom que o CDS-PP e o PSD saibam a quem mandar a carta.