Opinião

Haverá esperança?

Diz-se que a esperança é querer que algo de bom aconteça, mesmo que algo de mau possa interferir; e que é nesta forma de querer que o mundo “rola e avança”. Mas para acontecer é preciso fazer, saber fazer e fazer saber, que é como quem diz; não acontecerá nada se não fizermos algo sabendo fazê-lo e fazendo com que saibam como se faz. Um gesto, uma ideia, um projeto, devem comportar esta esperança num mundo melhor. Neste verão, as más notícias quase não nos deixaram espaço para a esperança, mesmo sabendo que o mundo não abranda, todos gostariam que a paz tivesse espaço de sobrevivência e que a vida como o bem mais valioso dos humanos não fosse cobardemente desrespeitada, irracionalmente atingida em todas as idades, raças e credos. Londres, Madrid, Paris, Nice, Berlim, Barcelona e tantas outas cidades desta Europa que é refúgio, porque esperança numa vida melhor para milhares e milhares de refugiados, que fruto de guerras e calamidades nela esperam construir outro futuro melhor; foram castigadas pela sua tolerância, capacidade de integrar, de respeitar e apoiar sem discriminação. Não bastava o abandono de milhares e milhares de pessoas por aqueles que com a guerra fazem perder as suas esperanças de viverem em paz e os lançaram para a pobreza extrema. Não bastava o desrespeito pela dignidade humana e a carnificina aos que pela ideologia ou religião não fazem parte dos seguidores de uma doutrina que mesmo sendo a sua, não a interpretam da mesma maneira; agora os ataques perpetrados no mundo e em concreto na Europa; em última análise configuram a continuação da perseguição aos refugidos porque lhes mantêm o medo, desta feita o do estigma e de mais rejeição. Os europeus já disseram não ao medo em todas as circunstâncias, mas os imigrantes e os refugiados, sempre que quem os acolheu é atingido, sentem este medo e de novo a perda da esperança porque algo de mau interfere neste desiderato. À estratégia do terror associa-se inevitavelmente o medo e a desconfiança, mesmo que o medo, esta reação instintiva de sobrevivência, esteja contido pelo que as forças de segurança nos possam transmitir. Haverá esperança? Certamente que sim, precisamente porque esta Europa, continente que provavelmente mais guerras sofreu desde a antiguidade e certamente as mais devastadoras; consolidou valores de paz, fraternidade e igualdade que a fazem desejável para um futuro melhor; e a esperança faz parte da consolidação destes valores, porque é um querer alicerçado nestes princípios e fundamentos que emergiram do erro monstruoso que é o terrorismo e a guerra.