Opinião

Mário Soares "A Europa Connosco!"

Mário Soares fica na nossa memória como um grande lutador pela afirmação da democracia e da liberdade. Um político de estatura mundial que orgulha os portugueses e engrandece Portugal. Soares foi, enquanto Secretário-Geral do Partido Socialista português, o grande impulsionador e defensor da adesão do nosso país à então Comunidade Económica Europeia. Um dos momentos mais marcantes na expressão desta vontade ocorreu na cidade do Porto, em março de 1976, na véspera das eleições legislativas nacionais de 25 de abril daquele ano. Num discurso proferido na cimeira de dirigentes de partidos europeus integrados na Internacional Socialista, reunida sob o lema «A Europa connosco!» Soares, na presença, entre outros, de Willy Brandt, traçou a adesão Europeia como o grande desígnio do futuro governo socialista. Naquele tempo, também marcado pela crise económica (viviam-se os efeitos económicos e financeiros do primeiro choque petrolífero), o fundador do PS deixou uma reflexão que, pela sua atualidade e capacidade prospetiva, merece ser revisitada: “A Europa já não é a mera expressão geográfica de um continente. A Europa, hoje, é uma ideia em permanente evolução, dotada duma dinâmica capaz de transcender certos particularismos nacionais e de se situar na descoberta e na definição das aspirações comuns a todos os povos europeus. Mais do que nunca, um europeu sente-se hoje, e para além da sua própria nacionalidade, indissoluvelmente ligado a um conceito alargado e dinâmico da Europa. A Europa, tal como a procuramos encarar, já existe, já deixou o domínio das meras intenções para se alicerçar em estruturas que procuram concretizar eficazmente a necessidade dos povos europeus de agirem em função de uma solidariedade profundamente enraizada em interesses comuns. Este conceito dinâmico da Europa exige que ele seja constantemente repensado. Construir a Europa não é tarefa fácil. Muitos obstáculos vão surgindo pelo caminho e alguns deles nascem de tradições ligadas à vida coletiva de cada povo. Repensar a Europa e o seu futuro é assim um dever permanente que deve ser assumido com humildade face à importância histórica dos objetivos e que deve ser obra de todos os europeus. Portugal é também a Europa na medida em que a sua pertença ao continente transcende a mera expressão geográfica e antes encontra as suas razões mais válidas na integração do ambiente cultural e na evolução ideológica que caracteriza a Europa (…). Posso assegurar-vos que sempre que Portugal se fechou à Europa se fechou também ao mundo, o que correspondeu a épocas de crise da sociedade portuguesa como aquela que findou em 25 de Abril de 1974”. Espero que o legado de Mário Soares seja prosseguido por outros líderes políticos. Bem sabemos que vivemos tempos desafiantes. A Europa carece de homens com a sua visão, coragem e capacidade de fazer acontecer. Na sua dimensão nacional e universal Soares esteve numerosas vezes nos Açores. Uma das suas últimas visitas, que recordo com saudade, teve lugar em janeiro de 2010, no Faial, no âmbito da inauguração do novo edifício do Campus da Horta da Universidade dos Açores . Naquela altura, foi atribuído o Grau de Doutor Honoris Causa, em Ciências do Mar pela Universidade dos Açores, a um seu grande amigo e camarada de luta, o Professor Mário Ruivo, um príncipe na defesa dos Oceanos. Mário Soares quis estar connosco ao seu lado. Esteve com a mesma paixão e entrega com que sempre esteve ao lado de Portugal e dos portugueses, apoiando as grandes causas. Não esqueçamos que, enquanto visionário da Governação, Mário Soares assumiu um papel importante neste contexto desde 1998, quando assumiu a Presidência da Comissão Mundial Independente para os Oceanos.•