Opinião

Guterres

António Guterres assume formalmente o cargo de Secretário Geral das Nações Unidas a 1 de Janeiro de 2017. Depois de eleito, a 12 de dezembro passado, protagoniza um momento único para Portugal, e para os portugueses, ao vermos ‘um dos nossos’, a assumir um cargo de relevância extraordinária, à escala internacional. No seu discurso, após a eleição, fez questão de sublinhar os valores da paz, da segurança, dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável, da igualdade de género e da solidariedade, que estarão presentes ao longo do seu mandato, suscitando as responsabilidades também de Portugal, enquanto País de origem, na persecução destes grandes temas. António Guterres superou-se a sí próprio, elevando por essa via as responsabilidades de Portugal. Falamos de um homem de coragem, no qual são depositadas elevadas expectativas, face aos gigantescos desafios com que se deparará. Desde o contributo para a paz e segurança internacionais, como a relação com e entre as principais potências do mundo, ao problema dos refugiados, de que é profundo conhecedor, á gestão da máquina nas Nações Unidas, que necessita de meios para assegurar o seu funcionamento, assim como, de libertar fundos para o exercício da sua missão, até à questão das alterações climáticas, que poderão ser geradoras de conflitos, ou agudizar os já existentes, em que a ONU será parte ativa na desaceleração do aquecimento global Guterres tem provas mais do que dadas, da sua capacidade de mediar, de construir consensos, de gestão de custos e de recursos, de conciliar as exigências da política com os intervenientes a que elas estao sujeitos, da capacidade de, em cada momento, antecipar vontades na construção de soluções. Também os Açores, têm especiais razões para se congratular com esta eleição. Para além de um conhecedor dos problemas e anseios, António Guterres é um autonomista convicto, que nos orgulha pela relação que estabeleceu com os açorianos, pela sua seriedade, pelo seu brilhantismo, pela sua ação, pela sua disponibilidade, de dizer presente, em momentos de aflição, onde se destacam as situações de catástrofes naturais, que assolam os ilhéus. António Guterres, enquanto governante deu provas claras de compreensão da relação dos açorianos com as ilhas, de que é exemplo a sua intervenção, aquando do sismo de 98, com alto grau de destruição nas ilhas do Faial, do Pico e de São Jorge. Não pretendemos comparar questões como, a Síria, a Crimeia, ou Afeganistão, que terá agora de enfrentar na ONU, mas foram sismos, e momentos, de grande intensidade, que destruíram tudo ou quase tudo, e que a partir do pouco que restou, foi necessário dar a volta e mostrar que era possível, começar de novo e (re)construir futuro. António Guterres fez parte da solução. Pelas funções que me foram confiadas, tive o gosto e o privilégio de acompanhar, na Assembleia da República, a atribuição do Prémio Direitos Humanos 2016, a António Guterres, com a presença do primeiro-ministro, António Costa, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. A atribuição desta distinção ao Secretário Geral da ONU deveu-se ao trabalho desenvolvido na defesa dos direitos humanos, nomeadamente enquanto Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), entre 2005 e 2015. O prémio Direitos Humanos foi instituído, em 1998, pela Assembleia da República, sendo a sua atribuição efectuada no âmbito das comemorações do Dia Internacional dos Direitos Humanos, que se assinala a 10 de dezembro. Neste contexto, é com muito gosto que registo, a satisfação e a confiança, num dos grandes do mundo. António Guterres. Bom 2017!