Opinião

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Quatro décadas. Quarenta anos de Autonomia. Segundo o mais comum entendimento, que exerceria um qualquer paralelismo entre essa passagem do tempo e a idade humana, dir-se-ia que a nossa Autonomia estaria a entrar nos terrenos prévios à meia-idade, quiçá a preparar-se para uma velhice. Mas não. No caso da Autonomia dos Açores, o processo tem-se desenvolvido ao contrário, qual, também, caso curioso. Quanto mais madura em idade, mais viçosa se a deseja. O vigor dessa Autonomia mantém-se porque a ela se soube dar o devido valor, tendo sido acarinhada nos quarenta anos em que paralelamente apadrinhou uma constante vontade no sentido de um muito almejado reforço. Celebramos hoje também a diferença e especificidade que em grande parte justificou a consagração dessa mesma Autonomia. Somos ilhéus. Somos pedaços de terra abraçados por um mar que, distanciando-nos do continente português, criou no país uma singularidade que convidou à consagração da Autonomia dos Açores. Vivemos hoje sob a égide de um espírito democrático que atribuiu, a esta nove ilhas, a possibilidade de auto governo. Imaginamos hoje uns Açores onde não nos pudéssemos pronunciar sobre os caminhos que pretendemos seguir? Conseguiríamos nós, hoje, aceitar viver sob uma qualquer semelhança a jugos de outrora? Não. A Autonomia, essa latência que é amiúde olvidada (sem maldade) pelo hábito, implantou-se no seio de cada lar Açoriano – criou raízes. Sem alaridos invadiu, de forma calma e progressiva, as vivências de cada um de nós. Os jovens de hoje não sabem o que é viver nuns Açores não autónomos. Desconhecem como era “antigamente”. Eu própria apenas conheço, dessa época, aquilo que me contam e aquilo que estudei. Por isso é preciso compreendê-la e beber dos seus benefícios, para que dessa análise possam ser tiradas as devidas e corretas ilações – que essa Autonomia é muito mais do que o que alguns dela querem fazer. Que não estaríamos onde estamos se não a tivéssemos. Que não teríamos o desenvolvimento económico que temos, um Serviço Regional de Saúde com a configuração que atualmente o caracteriza, nove ilhas ligadas por mar e ar através de uma vastíssima rede de ligações (como “parcos”exemplos) – se não tivéssemos Autonomia para tal. Porque nada disso poderíamos decidir. Porque nada disso estaria nas nossas mãos. Foi essa Autonomia que garantiu, enquanto no continente se agravava continuamente a carga fiscal num contexto de crise económica, profundamente lesivo dos portugueses, que aqui se garantiam duzentos e cinquenta milhões de euros de apoios e benefícios às famílias açorianas – que aqui se podia fazer diferente. Foi também ela que nos permitiu contas públicas equilibradas, bem como um défice e uma dívida pública que, no cômputo nacional, são quase irrisórios. É assim, preciso mantê-la viva. Não como uma memória de algo com quarenta anos que se dá por adquirida, mas como uma construção iniciada muito antes, que hoje se repercute em cada passo do nosso dia-a-dia. É preciso exercê-la, como consciência de uma capacitação coletiva sobre as decisões que ditam o nosso futuro como Açorianos. É preciso potenciá-la, como mecanismo de maiores avanços no nosso desenvolvimento como Região, como Povo – autónomos. Delinear o nosso rumo, construí-lo pelas nossas mãos – é a Autonomia que o permite. É aos Açorianos que cabe cumpri-la.