Opinião

O fim das maiorias relativas

I. Há uma curiosa coligação negativa na política açoriana. Envolve, partindo de posicionamentos diferentes, toda a oposição e tem por objetivo aparente evitar que o PS governe – para uns, sozinho; para outros, de todo – ainda que, na realidade, seja uma pura e dura estratégia de poder. De forma mais ostensiva ou mais dissimulada, da esquerda mais à esquerda à direita mais à direita, os vários partidos com assento parlamentar fixaram como meta serem aquele bocadinho que falta para uma maioria absoluta. É que se o PS não conseguisse manter a maioria que os Açorianos lhe têm vindo a conferir, todos eles passariam a ser partidos de poder. Não é, obviamente, ilegítimo querer que os outros não ganhem. Seria, quanto muito, poucochinho, se fosse só esse o objetivo, além de constituir um inequívoco sinal de que a oposição já se convenceu (ou foi convencida pelos instrumentos auxiliares de medição eleitoral) de que o PS vai ganhar de novo as eleições e, se os Açorianos assim o entenderem, com maioria absoluta. A questão, porém, é que, se à esquerda, a aposta vai para uma geringonça à regional, à direita, e ao contrário do que foi e continua a ser dito por PSD e CDS na Região em relação à solução governativa nacional, a secreta esperança é a de que uma maioria relativa do PS não lhe permita sequer governar. II. Mas para que não digam que escrevo de cor, vamos ao que cada um disse e admitiu. Comecemos pela CDU e pelo que disse Aníbal Pires na apresentação da sua candidatura: “o futuro dos Açores será melhor sem maiorias absolutas, com a eleição de mais deputados das candidaturas da CDU”. Segue-se o Bloco de Esquerda, agora que a líder de sempre voltou a ser líder de direito: “para dar a volta a isto é preciso que uma maioria absoluta acabe para ser obrigada a ouvir, a dialogar, a negociar”. Ou seja, e resumindo, estamos todos empenhados em tornar necessário aquilo que a nível nacional foi uma resposta nova a um conjunto inesperado de circunstâncias excecionais. Também à direita o discurso pré-eleitoral é sobre as virtudes da instabilidade política. Aliás, para o deputado Artur Lima, honra lhe seja feita, esta linha de argumentação já não é de agora. Antes das últimas Regionais, já afirmava convictamente que “se conseguirmos manter estes resultados, em 2012, não haverá maioria absoluta nos Açores e este é o nosso objetivo”. O caso do PSD, pela responsabilidade histórica e pela dimensão da sua pretensão enquanto maior partido da oposição, assenta num discurso mais sibilino e controvertido, mas no fundo o objetivo é o mesmo. Quem ostenta a ambição de ser Governo sozinho não pode, assim sem mais nem menos, dizer que tem como meta inviabilizar a maioria absoluta do principal adversário. Contudo, quando esmiuçado, o discurso do deputado Duarte Freitas acaba por ficar curto nas mangas. Foi o que aconteceu recentemente, na entrevista que concedeu à RTP/Açores, e onde, por um lado, se assumiu como Presidente à espera de ser e, por outro, se viu obrigado a ser também tudo o que os Açorianos quiserem desde que isso signifique recuperar o poder. III. Portanto, se à esquerda do PS o objetivo é criar condições para que o PS precise de uma geringonça regional, à direita a ideia inconfessada é, pelo contrário, a de reeditar em versão regional a maioria a que chamaram espúria na República. É evidente que não entram neste equação valores como os da estabilidade política, da segurança e da confiança dos Açorianos. É claro que a preocupação com o combate à maioria absoluta passou a significar apenas a possibilidade de um governo alternativo ao do PS. As maiorias relativas acabaram.