Opinião

One Man Show

Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente da República Portuguesa de forma inequívoca mas sem surpresa. Das dez sondagens conhecidas, antes das eleições, nove apontavam Rebelo de Sousa a ganhar à primeira volta. O recorde de candidatos, dez, traduziu-se numa maior participação do eleitorado. A abstenção decresceu ligeiramente por via de uma oferta eleitoral que permitia opções para quase todos os gostos, com a exceção de uma candidatura abertamente contra o atual governo nacional do PS. Nos Açores a abstenção registou números estratosféricos que obrigam os partidos à reflexão e a consequências. Esta foi a campanha eleitoral mais despartidarizada de sempre. O cariz partidário resumiu-se ao braço de ferro entre os candidatos do PCP e do BE. A forma como o PS se descomprometeu nestas eleições desmobilizou parte do seu eleitorado. Sem poder contar com os candidatos que há um ano atrás eram apontadas pelas sondagens como vencedores face a Marcelo - António Guterres, António Vitorino e Jaime Gama – o PS optou por não apoiar oficialmente ninguém. As candidaturas de Sampaio da Nóvoa, uma personalidade com falta de notoriedade nacional, e de Maria de Belém, com uma campanha desastrosa, não foram suficientes para mobilizar o eleitorado socialista. O exemplo mais notório da desassociação dos partidos com a campanha presidencial foi a do candidato vencedor. Marcelo Rebelo de Sousa andou sozinho a guiar pelo País fora, a fazer a rodagem do seu novo Mercedes-Benz. Nenhum destacado dirigente partidário do PSD ou do CDS participou na sua campanha, ou sequer no comício de consagração no Domingo à noite. A situação chegou ao ponto de Passos Coelho ser um dos derrotados da noite com a eleição do candidato que o ex-PM não queria em Belém por o considerar um “cata-vento”. Marcelo protagonizou um espetáculo de “one man show”. É por isso que terá uma ampla margem de manobra na presidência. Aguardemos pelos primeiros sinais da sua atuação. Curiosamente já há um jornal nos Açores com uma causa presidencial: a nomeação de um Representante da República açoriano.