Opinião

A escolha II

Resultados - No passado Domingo a vontade do povo foi soberana. Portugal decidiu renovar o mandato da coligação PSD/CDS-PP. Há que respeitar a mensagem que os portugueses pretenderam passar com a votação. No entanto, os próximos dias serão cruciais para percebermos como se irá desenrolar o cenário de maioria relativa com que estas eleições deixaram a coligação. Cavaco Silva disse que já sabia o que fazer e que havia estudado todas as possibilidades. Espero que a lição tenha sido bem estudada. Porque a nível de estabilidade de governação, não se afiguram facilidades para Passos Coelho e Paulo Portas. Abstenção – Enorme e assustadora. Uma verdadeira imensidão de portugueses resignou-se ao sofá e optou por não cumprir o seu dever cívico. Em diversos concelhos dos Açores a abstenção foi elevadíssima. Ainda não se encontrou sucesso na transmissão dessa verdade máxima deque o não exercer o direito de votar significa a perda do poder de reclamar, de sair à rua, de dizer basta. Por estes dias, Platão é, por diversas vezes, e com razão, citado: “A penalização por não participares na política, é acabares por ser governado pelos teus inferiores”. Ainda não há completa noção do poder que o voto em si encerra. Há que trabalhar cada vez mais na pedagogia do voto, da sua utilidade e da sua finalidade. A resignação é a maior oponente da mudança necessária. Quem venceu estas eleições não foi a coligação, foi novamente a abstenção. E, dessa forma, todos perdemos. Reações – A coligação ganhou sem maioria absoluta. Grassa nela o ceticismo, por mais que queiram disfarçar. Passos Coelho já começou a pedir entendimentos ao PS porque sabe que o seu resultado foi frágil. À esquerda o PCP adotou uma postura quase conflituante com aquela que caracterizou toda a sua campanha (de canhões virados para o lado errado). O BE ganhou terreno e Catarina Martins imediatamente sacou da artilharia pesada. Costa disse que não se demite. Não vejo porque o deveria fazer. É precisa estabilidade no PS. Será a maior força da oposição e António Costa terá um papel de grande responsabilidade como líder. Há que responder positivamente à vontade do povo e encarar os desafios que se nos colocam. No meio disto tudo, a grande surpresa foi mesmo o PAN. No meio de todos os indecisos que decidiram votar nos partidos ditos “pequenos”, muitos votaram no partido político que na sua denominação tem os animais e a natureza, que assim conseguiu eleger um deputado. Surpreendente. E sintomático. Açores – Por cá invertemos completamente os resultados das eleições legislativas de 2011. A Região pintou-se de rosa na noite de Domingo. Carlos César mereceu novamente a confiança dos açorianos e outra coisa não seria de esperar. Pelas ruas sentiu-se a empatia com o Partido Socialista na Região. Porque tem feito um bom trabalho e porque esse trabalho tem sido pelas pessoas. Por outro lado, estão a esgotar-se os dedos da mão para contabilizar o número de derrotas eleitorais que já carregam Duarte Freitas e Berta Cabral. Duarte Freitas agarra-se à cadeira e nem quer ouvir falar de demissão. Mas não deveria ser apanágio de um verdadeiro líder admitir quando está a prestar um mau serviço às pessoas e ao seu próprio partido? Seria uma reflexão muito útil ao PSD/A, a Duarte Freitas e à democracia em geral. Tendo assinado o tal documento que diz que não podem votar contra nada que Passos Coelho disser, aguardo para ver o que farão os novéis deputados do PSD em situações em que os Açores estejam implicados e das quais possam sair prejudicados. Não tenho, neste âmbito, qualquer receio das decisões dos deputados açorianos do PS na República. Porque são livres de lutar pelos Açores. Os do PSD não o são. E não o são porque entregaram de bandeja, a Passos Coelho, a liberdade de decidir. Para que servem deputados assim?