Opinião

Nómadas do novo Apocalipse

Até meados da década de setenta nos meios mais informados, as discussões da ordem mundial centravam-se muito na dicotomia Este-Oeste. Era o tempo que contrapunha o dito “ocidente à Rússia”. Se o discurso oficial e dominante vivia quase obcecado nesses dois mundos, timidamente, surgiram vozes lúcidas a advertir sobre as diferenças dos países do Norte e os do Sul. Hoje, não se trata da Escatologia cristã representada nos 4 cavaleiros do Apocalipse (Peste, Guerra, Fome e Morte). Porém, a verdade é que os atuais nómadas do infortúnio começam, infelizmente, a dar razão às já longínquas preocupações com as diferenças entre um grupo de países ricos e desenvolvidos do Norte e uma amálgama crescente, pobre e caótica de países do Sul, incluindo a África e o Médio-Oriente. Enquanto a ONU faz o que pode, mas não a deixam fazer o que deve, a Europa como é seu timbre leva sempre muito tempo até acordar e reagir. Foi assim com grandes guerras, para além da história europeia estar recheada de (maus) exemplos de lentidão. Neste momento, começam a surgir reações, uma vez que “as invasões até às terras prometidas” têm assustado alguns países. Os migrantes sendo pobres, muitos detêm formação e estão na idade ativa e proactiva porquanto arrojar-se a um “salto” desta natureza requer “aldância”. A intenção manifestada pelo governo dos Açores de considerar este “movimento pendular de migrantes” pode ter consequências positivas para as nossas ilhas com maiores problemas demográficos. Para isso, está na hora de traçar um plano regional de integração de migrantes, sopesando condições e exigências perante a Europa. A nossa quota-parte de solidariedade teria retorno no maior equilíbrio da pirâmide etária, muito mais lento de conseguir pelas políticas normais, e, permitiria rejuvenescer a população açoriana neste segundo repovoamento. A questão é maior do que trabalhar para a sustentabilidade da segurança social. Após a fuga compulsiva de jovens qualificados do nosso país, motivada pela inqualificável cegueira de Passos Coelho, os Açores poderiam dar o exemplo de como integrar eficazmente estes nómadas do novo Apocalipse. Bastaria observar o caráter multifocal desta desejável operação, necessariamente, seletiva e rigorosa, para que a prazo se pudesse garantir novas oportunidades às economias das ilhas mais envelhecidas. Como se tem dito “ver ao longe é ter razão antes”.