Opinião

Faltar à verdade

Passos Coelho disse, numa recente entrevista ao Jornal de Negócios, que “as pessoas de rendimentos mais baixos não foram afetados por cortes nenhuns. (…) Não houve nenhum aumento do IVA. Não houve nenhum corte no RSI, nem nenhum corte no subsídio de desemprego”. Era esperado que, com o aproximar das eleições legislativas, o ainda primeiro-ministro tentasse, a todo o custo, inverter a realidade e, ao mesmo tempo, passar a culpa desta desgovernação para outros. Não se esperava, contudo, que fosse com tamanha desfaçatez. Pedro Passos Coelho só pode queixar-se de si próprio. Foi ele que prometeu não cortar salários, não despedir ninguém, não acabar com o 13º mês e jurou a pés juntos que a austeridade iria incidir apenas nas gorduras do Estado. Lembram-se? Estávamos, então, em 2011 e ainda antes das eleições. Ganhas a legislativas daquele ano, foi o que se viu: que o programa do PSD era o programa da troika, que iria ainda mais longe do que a troika, que tínhamos de empobrecer, que quem quisesse trabalho que o procurasse lá fora, entre outros. Numa tentativa de fuga para a frente, o primeiro-ministro tenta desmentir, movido por interesses meramente eleitorais, o que é obviamente indesmentível. Os Portugueses vivem pior e só não estão mais pobres porque o Tribunal Constitucional ainda barrou algumas medidas que eram gravosas para os cidadãos, nomeadamente para os funcionários públicos e pensionistas. Ninguém acredita nas palavras de Passos Coelho e, como diz o nosso povo, a verdade vem sempre ao de cima. Veja-se as inúmeras medidas que afetaram os mais frágeis e não só. O aumento brutal do IVA, as reduções de 33% e 27% nos beneficiários de prestações públicas de combate à pobreza, como o Rendimento Social de Inserção e o Complemento Solidário para Idosos, a destruição de mais de 450 mil postos de trabalho, o aumento do IRS em mais de 30%. Veja-se o que se passou na educação, na saúde e na justiça. Veja-se a dívida pública, que aumentou 30 pontos percentuais, apesar da venda apressada e ao desbarato de empresas públicas. Esta realidade confirma que o primeiro-ministro faltou à verdade, numa tentativa de branquear a sua governação. Os Portugueses saberão dar-lhe a resposta no momento certo.