Opinião

No "Tempo Certo"

O presidente Vasco Cordeiro no seu discurso no dia da Região teve o mérito de perceber que há um largo conjunto de cidadãos que não se revê na nossa organização democrática, que está profundamente desiludido com os seus representantes e que anseia por respostas dos poderes públicos para os seus problemas do dia-a-dia. Mais, o presidente do governo não se ficou por manifestos desejos inconcretos, que pairam por sete dias e que ficam muito bem nos noticiários e nos comentários dos comentadores, e agiu – como é sua obrigação, enquanto eleito, de ir ao encontro das legítimas expectativas das populações - propondo e liderando um amplo debate na sociedade açoriana sobre a melhoria da relação entre eleitos e eleitores, sobre a participação em eleições regionais de outros grupos organizados que não apenas partidos políticos, sobre o papel que cada ilha e os seus representantes devem desempenhar na construção da coesão regional. O presidente soube resistir, e bem, aos chavões populistas tão propagandeados pelo PSD e pelo CDS/PP, das reduções de “cargos políticos ou de nomeação” ou do fim da ida na “classe executiva nos aviões,” enquanto “esmifravam até ao tutano” o rendimento dos portugueses. O caminho é outro! É de uma serena e equacionada “política de posteridade”! Independentemente da posição de cada um sobre estas propostas específicas, este é um debate imperativo nos dias que correm, que deve ser realizado com o “tempo” certo. Não o “tempo instantâneo” das campanhas eleitorais, da comunicação social, das redes sociais ou dos comentadores, que nos estreita o caminho do debate “para a tirania das pequenas decisões”, “isto é, ir somando decisões que finalmente nos conduzam a uma situação que de início não desejávamos”. Levar o “tempo certo” é alargar o debate à sociedade civil, aos partidos e ao parlamento. Levar o “tempo certo” é ampliar o domínio da discussão sobre o nosso sistema político para além da preocupação com a proximidade entre eleito e eleitor, centrando-a também na dignificação e na transparência do “ato público” e dos seus protagonistas e na resposta concreta aos problemas dos cidadãos. Está lançado o debate, cabe a todos nós concretizá-lo! P.S. – Curiosa notícia sobre o município da Ribeira Grande e sobre a redução “milagrosa” do seu passivo em 17 milhões de euros através da venda de uma empresa municipal. Seria caso para Prémio Nobel da Economia, para o presidente da Câmara que gere um orçamento de 18 milhões de euros, não fosse essa dívida, transformada em rendas pagas pelo município junto da empresa (agora privada), através de um contrato por 18 anos, num valor de cerca de 1.050.000 euros por ano. É caso para dizer que a capacidade de “engenharia financeira” do presidente do município da Ribeira Grande só tem comparação nos Açores com o marasmo e falta de ambição do município vizinho de Ponta Delgada.