Opinião

Defender a Autonomia

As atitudes do governo central face aos Açores têm tendência a repetir-se nos momentos de crise. Mesmo que as conjunturas sejam diferentes e sejam outros os protagonistas, há comportamentos semelhantes que reaparecem ao longo da história. Comecemos por Salazar, o homem que nunca simpatizou com o espírito reivindicativo dos açorianos. O então jovem ministro, empenhado em endireitar as finanças, deixou os Açores de rastos e duplamente penalizados. A partir de 1928, sofremos as restrições gerais a que todo o país foi submetido, mas também as que diziam respeito à administração autónoma, que na época se executava através das Juntas Gerais. Habilidoso e matreiro, Salazar não se opôs às reclamações que foram feitas pelos açorianos para ampliar as prerrogativas autonómicas. Aceitou a deslocação para a esfera das Juntas Gerais de uma quantidade de serviços, comprometendo-se a fazer a transferência das respetivas de verbas. Esqueceu-se rapidamente das obrigações e os resultados foram catastróficos. As reações não se fizeram esperar. Gente conservadora, que até o apoiava ideologicamente, e outros de formação democrática não suportaram tamanha afronta. Assim aconteceu com alguns elementos da elite pensante açoriana: Aristides Moreira da Mota, que mostrou publicamente animosidade a Salazar, o conselheiro Luís de Bettencourt que abandonou a presidência da Junta Geral de Ponta Delgada, Francisco Machado Faria e Maia, José Bruno Carreiro e Luís da Silva Ribeiro, entre outros. Recorro a esta evocação para relembrar a atitude dos que souberam bater o pé ao ditador, colocando em primeiro lugar os interesses dos Açores, mas também para chamar a atenção para alguns desmandos que têm surgido ultimamente por parte do Governo do PSD/ CDS O mais emblemático foi sem dúvida o do ministro do PSD, Miguel Relvas, quando afirmou com toda a displicência, perante uma delegação de deputados do Parlamento Açoriano, que quem paga é que manda. Esta atitude é bem reveladora do espírito prepotente que grassa no meio do governo e da arrogância com que o ministro Miguel Relvas tem vindo a tratar o caso da RTP/Açores. Outras tentativas de estrangulamento da autonomia foram ensaiadas, quando se pretendia que a receita de 5% a transferir para as Câmaras Municipais passasse a sê-lo à custa do orçamento regional ou com o pagamento dos vencimentos dos funcionários das casas do Povo, etc, etc. A estratégia parece ser sempre a mesma: a asfixia financeira sem respeito pelas regras que estão definidas. E perante tudo isto, o PSD/Açores tem feito cedências face às investidas do centralismo por solidariedade partidária com Passos Coelho. A líder regional, Berta Cabral, anda embrulhada nas conveniências politico-partidárias o que a torna incapaz de tomar as decisões mais acertadas na defesa da autonomia. Os açorianos já se aperceberam de todas essas contradições, de todas as hesitações e do medo em bater o pé aos seus correligionários, como aconteceu com o caso do feriado do carnaval. O mesmo desnorte nas hostes social-democratas acaba de nos chegar da Madeira com a proposta suicida de querer transferir para o Estado os encargos com a saúde e a educação. Se as convicções autonomistas se estão desmoronando no seio dos social-democratas, os açorianos podem contar com a determinação e a coesão do PS/Açores para vencer os desafios que forem surgindo. Vasco Cordeiro será um impulsionador da linha de rumo traçada pelos nossos antepassados, com perspetivas desenvolvimentistas e bem mais progressistas viradas para o Futuro. O PS continua a ser, sem qualquer dúvida, a mais forte garantia da defesa da autonomia açoriana.