Opinião

Queremos correr este risco?

De vez em quando, os factos desmentem a Presidente do PSD/Açores, que monta toda a sua estratégia em passar uma imagem pública de uma política que toma decisões sem hesitar. Três exemplos desmontam por completo esta imagem, seja na qualidade de Presidente do maior partido da oposição, seja enquanto Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada. O caso mais recente está relacionado com a tolerância de ponto para a terça-feira de Carnaval, com Berta Cabral, a autarca, em hesitar em toda a linha, quando fez depender a sua decisão de conceder esta tolerância para os funcionários da Câmara do que decidisse Carlos César para a Administração Regional. Nem num caso destes, Berta Cabral assumiu a responsabilidade de decidir o que era da sua competência. O seu dilema era o de sempre: Passos Coelho não deu tolerância aos portugueses e Berta Cabral gosta muito de Passos Coelho. Ficou, assim, dependente do que decidisse Carlos César, apenas porque quis e teve receio de avançar. Mas já não foi a primeira vez. Faz precisamente um ano que Berta Cabral aplicou, na Câmara Municipal de Ponta Delgada, a remuneração compensatória criada pelo Governo para os funcionários públicos. Antes de a aplicar, levou semanas a criticar a medida. Neste episódio, tratou-se de um caso de dupla personalidade política: a Presidente do PSD/Açores criticou fortemente o que a Presidente da Câmara de Ponta Delgada, dias depois, implementou, e bem, na autarquia que lidera. O seu dilema passava por não dar o mérito ao Governo Regional de uma medida, afinal, tão boa que serviu para os funcionários municipais de Ponta Delgada. O terceiro exemplo é quase caricato, se não houvesse um precedente recente em Portugal protagonizado por Pedro Passos Coelho. Berta Cabral defendeu, de forma populista, que os Açores precisam de “menos políticos a tempo inteiro”. A pergunta que os açorianos devem fazer é qual a outra faceta que conhecem de Berta Cabral que não seja a de cargos de confiança política ou de actividade política a tempo inteiro nas últimas décadas? Para que fique bem claro: Berta Cabral é uma política a tempo a inteiro. Isso não tem mal absolutamente nenhum. O mal está em, demagogicamente, renegar-se a si própria porque acha que é isso lhe pode garantir algum voto. Este raciocínio tem uma definição clara: populismo. Estes três exemplos são, assim, bem demonstrativos do comportamento político da Presidente do PSD/Açores: Não assume as suas responsabilidades quando houver a remota hipótese de contrariar o PSD nacional, tem uma dupla faceta de autarca e líder partidária e age não em coerência com o que pensa, mas com o que acha que os outros querem ouvir. O risco é que Berta Cabral se esteja a tornar o Pedro Passos Coelho da vida política regional. Antes das eleições é uma coisa e, depois das eleições, é exactamente o seu contrário. Queremos correr este risco?