Opinião

Uma estrela chamada Mar

O mar sempre foi a nossa porta de entrada e de saída desde os primórdios do povoamento até ao século XX. Foi o mar que se abriu às caravelas dos nossos antepassados - os primeiros habitantes das ilhas - foi o mar que nos levou à procura de melhor fortuna quando sismos, tempestades, fome e uma esperança de futuro nos remexeram o pensamento e o sonho. Foi o mar a fonte que nos matou a sede, tantas vezes, mas também foi ele que nos roubou bens e haveres quando nos galgava a terra e entrava, portas adentro, sem bater. Foi o mar que nos conduziu o imaginário por estradas nunca dantes navegadas, mas foi igualmente ele que nos afogou, sem piedade, as ilusões e as vidas. Mas é ainda hoje o mar, a inspiração dos nossos artistas, a cobiça dos nossos conhecidos, o pão de muitas famílias, o oxigénio do nosso quotidiano, a expetativa de novas oportunidades, a confiança em diferentes riquezas, a fé no nosso futuro, a alma da nossa gente. O mar é, pois, o nosso aconchego mesmo quando nos desampara, o nosso amor mesmo quando nos atraiçoa. E como elemento perene da natureza, da nossa natureza – como tão bem disse Nemésio – é para ele que precisamos de nos voltar, para as suas imensas potencialidades em setores tão óbvios como as pescas, os transportes marítimos, o turismo náutico, a investigação, a exploração do conhecimento científico da oceanografia, mas ainda para outras áreas menos imediatas mas de grande alcance como podem ser dimensões comerciais de metais, enzimas, compostos existentes nos fundos do nosso mar com eventuais propriedades farmacológicas, estéticas, revolucionárias até para a ciência tal como hoje se apresenta. As Jornadas Parlamentares do partido socialista falaram disto e de muito mais. Foram lições sequenciais de áreas relacionadas com o mar que, tal como antigamente supomos que os nossos navegadores sentiram, nos desafiaram a criatividade e nos impulsionaram a auto-estima, dando aquela chama do acreditar que opera milagres. Vasco Cordeiro, no encerramento os trabalhos, falou mesmo numa diplomacia marítima com parceiros que a nossa Autonomia pode definir, assumindo o mar como um desígnio regional com várias estratégias setoriais servindo a estratégia comum e confluindo todas para um único objetivo: o mar gerador de riqueza, o mar criador de emprego, o mar que dá novos mundos ao mundo (os novos conhecimentos serão novos mundos), o mar galvanizador da arte e construtor de sonhos. O mar foi a estrela das Jornadas, sobre a qual todos os nossos olhos incidiram, convictos e realistas. A viagem já começou e o Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores está a trabalhar nesse sentido. Lembrei Genuíno Madruga, na metáfora da viagem e acreditei na nossa capacidade de navegação. Outra navegação. A navegação rigorosa também, sábia também, conhecedora também, mas a navegação política. Com um homem como Vasco Cordeiro ao leme. Que não perdeu tempo a falar de outra coisa que não fosse o projeto dos Açores a entrar pelo mar, a resgatar o poder do mar, a fazer de nós, Açores, uma referência nacional e uma potência europeia. Podemos ser tudo isto, e voltar a crescer depois da crise. Vasco Cordeiro será o comandante de que os Açores precisam para progredir em terra e, muito especialmente, no mar.