Opinião

Os números que não enganam

Muita gente fala na desertificação humana que se verifica nas ilhas mais pequenas, nomeadamente na Graciosa, sobretudo quando quer atacar o actual Governo. São os fazedores de opinião (?) que atiram chavões maldizentes para os pasquins que os suportam, sem nunca se preocuparem com verdade. São vários os exemplos dos que espraiam olhares a coberto de redacções que se dizem plurais, que, impedindo o contraditório, deixam passar inverdades e imprecisões de vária ordem. Apesar de também qualificarmos este como um dos maiores desafios que teremos pela frente nos próximos tempos, é preciso ver os números com a seriedade que o assunto nos merece. É claro que não estamos satisfeitos com os números preliminares dos censos 2011, pois atestam que perdemos 387 habitantes, o que corresponde a uma redução de 8,1 %. Mas vendo estes números de uma maneira mais pormenorizada verifica-se que, nos últimos 10 anos registamos 357 nascimentos e 655 óbitos, o que se traduz num saldo natural negativo de 298 indivíduos. Ora retirando dos 387 habitantes que perdemos na última década os 298 de saldo negativo, verifica-se que, em grosso modo, apenas terão saído desta ilha 89 pessoas. O que terá acontecido em 1981, e é preciso relembrar os mais incautos e aqueles que imprudentemente não querem saber da verdade, foi bem diferente. Perdemos 1.803 habitantes, que representavam nem mais nem menos do que 25,1 % da população. Foi a maior quebra de população desde 1900. Seguindo a mesma lógica, registaram-se, nesses 10 anos, a que se referem estes censos, 850 nascimentos e 851 óbitos, o que quer dizer que da Graciosa partiram, nessa década, 1.802 graciosenses à procura de um melhor futuro noutras paragens. Bem diferentes, estas leituras. Assim, cai por terra a teoria dos que tentam, a todo o custo, transmitir a ideia de uma triste sina sem volta a dar ou associar este problema ao actual Governo. Fica também demonstrado que os números indicam a existência de um problema essencialmente ligado à baixa da natalidade, comum a muitas outras ilhas, ao país e à Europa, e que certamente terá repercussões negativas futuras, mas muito diferente da situação que existia nos anos 80, quando a questão económica e a falta de oportunidades terão ditado uma sangria da população. Afinal a desertificação não é um problema novo, como alguns tentam fazer passar.