Opinião

"Aprender" com a Grécia

Pedro Passos Coelho tem o que José Sócrates não teve nos últimos dois anos. Uma maioria parlamentar que lhe garante estabilidade governativa, através do apoio necessário para a aprovação das medidas legislativas duríssimas que terão de ser submetidas à Assembleia da República. O Governo de José Sócrates, em boa verdade, andou desde 2009 nas mãos da oposição, com a extrema-esquerda irredutível na opção de se auto-excluir de qualquer diálogo e de um PSD calculista, com a cabeça mais nas questões eleitorais do que nas soluções para o país. Esta maioria parlamentar formada pelo PSD e CDS poderá ser, porém, um presente envenenado para o novo Governo. Passos Coelho e Paulo Portas podem cair na tentação de considerarem que esta “zona de conforto” parlamentar é suficiente para implementar o programa estabelecido pela “troika” e mesmo ir mais além na dureza das medidas, como fez questão de prometer na campanha eleitoral. Para evitar esta tentação, Passos Coelho deve olhar com atenção para a Grécia. Todas as “receitas” internas e externas aplicadas a este país estão longe de dar resultados. Toda a austeridade não baixou o risco de bancarrota, até pelo contrário, tendo recentemente subido para uns inimagináveis 78,8 por cento. As remodelações governamentais e as experimentações várias não foram suficientes para acalmar a população grega que, em várias cidades e quase todos os dias, deixa bem claro que a Grécia é, neste momento, uma bomba-relógio. A principal lição que Pedro Passos Coelho deve retirar do que se passa na Grécia é que um Governo, mesmo com maioria parlamentar, não consegue ter sucesso nas suas políticas sem o apoio do povo. Esta semana uma multidão estimada em cerca de 200 mil pessoas cercou o Parlamento Grego enquanto, lá dentro, o Primeiro-Ministro grego pedia uma moção de confiança. A barreira policial separava os dois países: o político, desacreditado, sem soluções e dependente de Berlim, e o real, assustado, mas sem se resignar. Em Portugal, os próximos meses deverão servir para se aferir como será a governação de Passos Coelho. Servirão para se perceber se está disposto a governar para o povo ou se contra o povo. Passos Coelho não foi escolhido pelo BCE, nem pelo FMI. Foi, sim, eleito pelos portugueses. Já garantiu que Portugal não falhará. Resta saber quais os custos que está disposto que os portugueses paguem por este sucesso. É verdade que terá de cumprir, escrupulosamente, as medidas previstas no programa de apoio externo, mas terá de controlar, ao máximo, os danos sociais que isso provocará. Terá de ter sempre presente que muitos portugueses estão ou ficarão, nos próximos tempos, socialmente desprotegidos. Nunca poderá se esquecer que não poderá haver portugueses de primeira e de segunda em sectores como a Saúde e a Educação. Passos Coelho terá, ainda, de ter em mente outro aspecto fundamental: que Portugal é constituído por várias regiões, umas mais desenvolvidas do que outras, umas com dificuldades naturais mais significativas do que outras. Os Açores não têm as mesmas condições intrínsecas para se desenvolverem do que Lisboa. No seu discurso de tomada de posse foi totalmente omisso relativamente a este aspecto. Este é, para já, um mau sinal, nada mais.