Opinião

Quem muito fala pouco aprende

A falta de ideias e de propostas concretas para os Açores já começa a ser angustiante. O PSD/Açores promoveu, na última semana, um seminário para debater o Turismo na Região, tendo a sua líder desfiado, mais uma vez, um rol de críticas ao Governo Regional. No final, apresentou uma única proposta completamente contraditória com o que tinha dito um minutos antes. Vamos por partes. Qualquer pessoa sabe que o Turismo é um dos sectores económicos mais sujeitos às conjunturas económicas dos mercados emissores. Toda a gente sabe, também, que se vive na Europa uma forte crise económica. É, por isso, normal que menos europeus façam turismo. A título de exemplo, a Madeira perdeu um milhão de turistas. No entanto, por cá, a culpa é exclusivamente do Governo Regional dos Açores, diz Berta Cabral. É porque é e basta. A Presidente do PSD/Açores, a mesma que guarda na gaveta as supostas soluções para o desemprego até 2012, criticou, ainda, o Governo Regional por ter demasiados organismos ligados ao Turismo. Estava no seu direito, pensávamos nós. Curiosamente, a única proposta que apresentou foi a criação de um Conselho Consultivo de Turismo. Muito bem! Quando se tem organismos a mais, a solução é simples: cria-se mais um. Mas vamos ao que realmente interessa. É verdade que o Turismo está a sentir as dificuldades inerentes a esta crise. Mas muitas destas dificuldades não são, porém, na proporção nem assentam nas razões alegadas pelo PSD/Açores. Berta Cabral queixou-se dos transportes aéreos para os Açores, mas esqueceu-se de dizer que, recentemente, os dados do Serviço Regional de Estatística indicam um crescimento no número de turistas nacionais a visitar os Açores. Na verdade, de Janeiro a Março, os residentes em Portugal atingiram as 83 mil dormidas, correspondendo a um acréscimo homólogo de 6,1 por cento. É verdade que a nível de estrangeiros se tem verificado quebras no número de dormidas. Mas é também verdadeiro que, no próprio dia em que Berta Cabral desfiava o seu rol de críticas, a cidade de Ponta Delgada estava cheia de turistas estrangeiros de um navio de cruzeiro. Como é verdade que, dias depois, cerca de 10 mil turistas inundaram São Miguel. Ou seja, nos últimos anos, foram criados novos nichos de mercado, como os navios de cruzeiros, graças a investimentos como as Portas do Mar. Além disso, não podemos deixar de referir um outro aspecto de crucial importância para o desenvolvimento dos Açores, o qual, ao contrário do que pensa a Presidente de Ponta Delgada, é muito mais do que a cidade de Ponta Delgada. Nos dados mais recentes do Serviço Regional de Estatística é possível a qualquer pessoa constatar, incluindo a Presidente do PSD/Açores, um grande contributo para a coesão da nossa Região. O número de dormidas, entre Março de 2010 e Março deste ano, cresceu 163 por cento nas Flores, 132 por cento na Graciosa e 77 por cento em Santa Maria. Estes crescimentos significativos representam, como é óbvio, mais coesão regional e resultam, em grande parte, de investimentos públicos, como os novos hotéis das Flores e Graciosa. Mas uma coisa é certa: a fatia de leão desde bom desempenho nestas ilhas vai por inteiro para os empresários privados. A concluir, só posso dar as boas vindas à Presidente do PSD/Açores a este debate sobre o Turismo. Isso quer dizer que a Região já dispõe de um sector de actividade consolidado, gerador de riqueza e de emprego, sendo uma importante mais-valia para a diversificação económica regional. Antes este debate era impossível de se fazer. Por uma razão muito simples: Não havia hotéis porque não existiam turistas e, como não vinham os turistas, não se construíam hotéis. Antes, o PSD nunca se lembrou de criar um Conselho Consultivo para o Turismo. Em boa verdade, também não era preciso.