Opinião

Saber do que se fala

Há no tempo em que vivemos uma dessincronização entre o curso dos acontecimentos e o seu impacto. Na verdade, a notícia que funcionava como canal privilegiado de acesso à informação deixou de o ser. Em vez disso, o que temos hoje é o acesso à reprodução mimética da mesma notícia que, apesar de variar no grafismo, se repete à exaustão pelos jornais. A notícia é portanto uma novidade relativa. Não encarna a sua função porque repete ideias. E não surpreende. Ao invés, endeusa-se a figura do comentador, que trabalha a perspectiva. E assume o papel de problematizador. Ou de paladino do descrédito de determinada medida. É o seu talhante, quem separa o osso da carne, e quem expõe os seus desperdícios. E serve mais ao leitor, porque através dele pode construir a sua própria perspectiva. O sentido crítico que o mundo actual convoca é também feito disso. Da necessidade absoluta de marcar posição. De se ter uma perspectiva. Um plano de visão. As circunstâncias actuais exigem a participação. O nim é cómodo, mas inerte. Todos temos opinião, e somos todos, também por isso, políticos. Quer seja sobre o mobiliário da praça, ou sobre o futuro da Região. Todos temos um papel na decisão. Resta saber até que ponto estamos dispostos a exercê-lo e a que ponto chega a coragem de o fazer. As decisões, mesmo as más, tem um objectivo, e é por isso que se acreditamos nele não o podemos defraudar. Exige coragem e tenacidade que não se vendem em pacotes no hipermercado. Mas são absolutamente necessárias. Para os comentadores a avaliação é distanciada, mas é mais gratificante. Ajuizar e criticar são pontos fortes do estímulo à intervenção cívica. Portugal é um país de brandos costumes. Mas esta não é uma condenação. É uma constatação que cabe a cada um de nós contribuir para alterar.