O eurodeputado Ricardo Serrão Santos foi o convidado para abrir da conferência “os desafios o impacto da mineração no mar profundo”, que decorreu no Instituto Real das Ciências Naturais da Bélgica, em Bruxelas. Na sua intervenção o deputado europeu, que é também editor chefe da revista científica internacional Frontiers in Marine Sciences na especialidade “Ambientes e Ecologia do Mar Profundo”, disse que “a mineração no fundo do mar tem impactos ambientais significativos, alguns dos quais foram identificados nos últimos cinco anos no âmbito de estudos científicos de mineração nas regiões de plataforma continental e em zonas sob jurisdição internacional. Dada a natureza, a escala e a localização das atividades de mineração propostas no fundo do mar, os impactos negativos sobre a biodiversidade são inevitáveis e provavelmente irreversíveis”. O eurodeputado, realçou a relevância da “já antiga experiência DISCOL, seguida pelo estudo recente da JPI Oceans sobre “Aspectos Ecológicos da Mineração do Mar Profundo” e o projeto H2020 MIDAS, onde estiveram envolvidos diversos investigadores do IMAR ligados à Universidade dos Açores que “levantam preocupações em relação à integridade da biodiversidade no fundo do mar e dos sistemas com ela interligados”.
Para Serrão Santos os impactos da mineração marinha “incluem conflitos com outros usuários do mar, como pesca (tanto demersal como pelágica), atividades de observação de baleias e planos de biotecnologia para explorar recursos genéticos marinhos”, salientou. Na Europa, a exploração dos recursos de metal da mineração dos fundos marinhos foi identificada como um dos cinco setores com alto potencial de desenvolvimento como parte da estratégia de crescimento azul da Comissão Europeia. A estratégia previu, até 2020, 5% dos minerais do mundo possam vir do fundo do mar. Se os desafios tecnológicos forem superados, a faturação anual da mineração marinha na Europa poderia subir de zero a 10 bilhões de euros até 2030. ”Esses números são atraentes, sobretudo se se pensar que a Europa ficaria mais independente de outras fontes”. A ideia, de que o mineração do mar profundo pudesse diminuir a proliferação dos chamados minerais de sangue ou de conflito oriundos de minas de escravos e de “trabalho” infantil em África, e que alimentam a indústria dos países desenvolvidos, pode parecer apelativo para a sociedade, mas dificilmente resolveria o crime instalado. Neste contexto o grupo político do socialistas europeus chegou a propor em plenário a traçabilidade dos minerais. Porém, a direita europeia, incluindo o PPE impediu a aprovação desta resolução.
Serrão Santos defendeu que o princípio da precaução deve ser aplicado ao sector emergente da mineração de profundidade, e que, atendendo às advertências científicas relativas a danos ambientais potencialmente irreversíveis, considera que a UE deve investir em alternativas sustentáveis e, especificamente, numa transição para o consumo e a produção sustentáveis, conforme solicitado na SDG 12 da Agenda 2030. O eurodeputado, concluiu realçando a relevância de continuar os estudos de impacto ambiental tal como se propõe fazer o JPI Oceans, de que Portugal é parceiro, saudando a participação de uma estudante de doutoramento e de uma investigadora do IMAR associadas à Universidade dos Açores, pela relevância desta instituição e desta Região Atlântica para o desenvolvimento do conhecimento neste contexto.