Neste Dia dos Açores é importante que façamos uma reflexão séria sobre as dependências — sejam elas químicas, tecnológicas ou comportamentais — são hoje um dos maiores desafios sociais e de saúde pública da nossa Região. Trespassam classes sociais, idades e territórios, deixando um rasto de sofrimento nas pessoas afetadas e nas suas famílias. Perante uma realidade em constante mudança, marcada pelo aparecimento de novas substâncias psicoativas e pelo agravamento das condições de vulnerabilidade, não podemos continuar a responder com inércia ou desarticulação. É neste contexto que o poder local assume um papel absolutamente determinante.
As autarquias, pela sua proximidade às comunidades, são muitas vezes as primeiras a identificar sinais de alerta: jovens em risco, famílias desestruturadas, situações de exclusão, bairros sem respostas sociais adequadas. São também os municípios e freguesias quem melhor conhece o tecido associativo, as escolas, os centros de saúde e as instituições locais. Por isso, têm não só a legitimidade como o conhecimento para integrar respostas que promovam a inclusão, a coesão social e o bem-estar das populações.
Pela sua proximidade com os agentes do território, o poder local deve ocupar uma posição central na definição e coordenação das respostas às dependências, facilitando a articulação entre escolas, associações e estruturas especializadas. Esta capacidade de mobilização local é essencial para respostas rápidas e ajustadas à realidade de cada comunidade.
O poder local deve ser reconhecido como parceiro essencial na promoção da prevenção e inclusão social. Com recursos adequados e autonomia, as autarquias podem dinamizar projetos e colaborar na reintegração de pessoas com dependências, em articulação com os serviços de saúde e sociais.
Por isso, qualquer estratégia regional séria de combate às dependências deve integrar os municípios e as freguesias como parceiros de primeiro plano. Deve ouvir os autarcas, envolver os técnicos e funcionários, partilhar dados e recursos. Mais do que nunca, precisamos de uma resposta transversal, articulada e humanizada — e os autarcas, pela sua presença no terreno, são essenciais para que essa resposta chegue a tempo e a quem mais precisa.
Num tempo em que a complexidade das dependências exige mais do que boas intenções, o poder local é, e deve continuar a ser, uma força de proximidade, de ação concreta e de esperança.