Opinião

Quando o mundo se fecha

As recentes decisões dos Estados Unidos em impor tarifas comerciais sobre produtos de diferentes países volta a reacender o debate sobre o futuro do comércio mundial. Donald Trump diz que está apenas a retaliar o que o mundo tem feito contra a América. Mas, quando o agressor se veste de vítima, é preciso desconfiar.

Estas tarifas não são uma medida de proteção. Elas tendem a transparecer um ataque disfarçado. A promessa de proteção dos EUA é à custa dos alicerces que os próprios americanos ajudaram a construir. Aplicando estas tarifas o que está a dizer ao mundo é claro: “ou jogam à minha maneira, ou não jogam”.

Mas quem é que vai pagar esta fatura? Não são só os países exportadores que poderão exportar menos para os EUA. São, também, os consumidores americanos. São as famílias, os pequenos e grandes empresários, todos aqueles que vão começar a pagar mais por tudo aquilo que compram.

Mas, mais inquietante é a mensagem que poderá estar por trás desta estratégia: o comércio livre está a ser desmontado peça por peça, e a globalização — essa ideia de mundo aberto, interligado, cooperante — está a ser desmaterializada propositadamente. A globalização pode não ser perfeita, mas substituí-la por um mundo de muros tarifários, isolacionismos e discursos nacionalistas parece uma viagem perigosa… e sem regresso.

A história já nos mostrou o que acontece quando os países se fecham sobre si próprios. A Lei Alfandegária Smoot-Hawley, nos anos 30, contribuiu para agravar a chamada Grande Depressão e hoje, o risco é o mesmo: travar o comércio global é travar o crescimento.

Caro ouvinte, quando o mundo se fecha, ninguém sai a ganhar. Apenas deixamos de nos ouvir e, mais cedo ou mais tarde, deixamos também de nos entender.

 

(Crónica escrita para Rádio) – 09 abr 25