Opinião

Fazer de conta

Como é conhecido, a Ilha Graciosa, após avultados investimentos na produção de energia limpa (eólica e solar), conjugada com uma central de baterias, foi considerada em 2019 como ilha modelo, relativamente às soluções de mobilidade elétrica e complementadas, mais tarde, com uma campanha para eletrificação do aquecimento das águas sanitárias.

Esta abordagem é importante por ser um dos passos para a substituição de combustíveis fósseis, onde se inclui o gás, que tem maiores custos ambientais e económicos.

Para além disso, este percurso valoriza a marca da Ilha Graciosa como Reserva da Biosfera, que tem mais de 15 anos.

Através da Resolução do Conselho de Governo 99/2022 de 26 de maio de 2022, foi instituída uma campanha para a atribuição de termoacumuladores a pessoas singulares que possuam um edifício na Ilha Graciosa.

As candidaturas decorreram entre 1 de junho e 31 de outubro de 2022, mas, segundo foi dado nota, a adesão foi muito fraca, colidindo assim com os objetivos principais de todo este processo de substituição da tipologia de consumo de energia.

Sendo uma das obrigações do promotor “divulgar a campanha junto do público em geral”, a verdade é que a divulgação, segundo diversos relatos, foi insuficiente ou, pelo menos, pouco eficaz, aferido pelos resultados obtidos. Dos 1.500 termoacumuladores previstos nesta campanha, ficamos a saber, um ano depois de terminarem as candidaturas, que foram atribuídos 209, uma execução de apenas 14%.

Para esta fraca adesão não é alheio o facto de se estar perante uma população envelhecida, com alguma dificuldade no acesso à informação e, sobretudo, infoexcluída.

Mas os poderes públicos também falharam por inércia e ausência de uma forte divulgação, que incluísse anúncios na comunicação social local e também flyers distribuídos porta-a-porta.

Neste processo, em nome da eficácia, deveriam ter sido envolvidas as juntas de freguesia da ilha, como entidades que estão mais perto das populações e que seriam capazes de ultrapassar as dificuldades criadas pela instrução dos processos através da plataforma eletrónica e a falta de informação.

Uma campanha deste tipo foi criada, quero acreditar, para bem do público-alvo, ou seja, os Graciosenses, por isso deveria ter havido outro empenho do governo, caso contrário estamos apenas a fazer de conta.

Fazer de conta não é novidade nestes últimos 3 anos de governação. Contudo, é, mais uma vez, digno de registo.