Opinião

Obesidade infantil: trabalho perdido

A preocupação com os níveis de obesidade infantil nos Açores remonta a largos anos. Cedo se percebeu a necessidade de implementar medidas capazes de combater a tendência crescente que se vinha registando, a par do verificado no país e, de forma generalizada, em todo o mundo.

Deste esforço surtiram resultados muito positivos, numa comparação entre os valores registados numa 1ª avaliação realizada em 2008 e os resultados obtidos em 2019, aquando da 5ª avaliação, fica clara uma redução na prevalência de excesso de peso, incluindo obesidade. Importa destacar que havendo um decréscimo em todas as regiões do País, foi nos Açores que se registou o decréscimo mais acentuado, uma diminuição de 10,7 p.p., isto é, passamos de 46,6% em 2008 para 35,9% em 2019 de crianças com excesso de peso.

Esta conquista foi destacada por especialistas como resultado das políticas implementadas nos Açores ao longo das últimas décadas. A criação de equipas multidisciplinares em todas as Unidades de Saúde de Ilha, com a inclusão de nutricionistas, uma medida pioneira no País e que alavancou os resultados registados nos Açores, a aposta na melhoria da qualidade das ementas nas escolas e, ainda, o trabalho desenvolvido pelas equipas de Saúde Escolar, permitiram reduzir expressivamente os níveis de obesidade observados.

Todavia, os mais recentes dados do COSI (‘Childhood Obesity Surveillance Iniciative’), um programa de monitorização da obesidade infantil da Organização Mundial de Saúde, demonstram que 43% das crianças açorianas apresentam “excesso de peso”. Revelam, ainda, “que 22,8% das crianças açorianas entre os 7 e os 8 anos de idade sofrem de obesidade infantil”, colocando os Açores no 1º lugar da tabela nacional das regiões com maior incidência de obesidade infantil.

Aquele que foi o trabalho enaltecido por especialistas, foi o mesmo que o atual governo desprezou. E assim, as conquistas de 15 anos de trabalho na promoção da saúde foram perdidas, em apenas 3 anos, pela inação do atual executivo. E se a pandemia poderá explicar algum retrocesso no caminho que se vinha consolidando, não poderá justificar um aumento de 7,1% na taxa de excesso de peso e obesidade nos Açores, quando no todo nacional este aumento ficou-se pelos 2%.

Perante tamanho retrocesso, o Partido Socialista reivindica a necessidade de recuperar rapidamente boas práticas, como a reativação de um programa regional para a promoção da alimentação saudável, estabelecendo como áreas de intervenção prioritárias a saúde infantojuvenil e a saúde escolar, a promoção do aleitamento materno, o incentivo à frequência de consultas de nutrição e a promoção da literacia em Saúde. Para além destas, deve-se, igualmente, encontrar novas formas de olhar e de atuar perante a problemática da obesidade infantil, devendo a sua implementação tomar lugar já no ano escolar de 2023/2024.

Por cada criança açoriana que possamos ser capazes de alterar a trajetória do ganho de peso pouco saudável, estaremos a melhorar significativamente a probabilidade dessa criança ter uma melhor qualidade de vida e uma maior esperança de vida.

Por todos e por cada um dos açorianos continuaremos a trabalhar, afincadamente.

 (Crónica escrita para a rádio)