Opinião

Modernices

Está na moda: o acesso cada vez mais fácil e instantâneo à informação facilita a desinformação, à má propaganda e mesmo à mentira mais descabelada.
Uma falsidade muitas vezes partilhada, à míngua de tempo de ponderação, passa por verdade, até porque esta hoje quer-se despida autoridade e ciência, próxima da opinião/desejo, numa mascarada de democracia.
Durante muito tempo, a razão impôs-nos a priorização dos factos e dos axiomas, ainda que humildemente provisórios. E sobre os factos, construíam-se interpretações, tendências e visões do mundo.
Desgraçadamente, regredimos. Os discursos invadem o espaço público, com visões contraditórias sobre os factos, e quando o tema é mais complexo, a generalidade dos cidadãos não consegue assentar na concreta realidade. Por isso se multiplicaram as verificações dos mesmos, numa angústia de, ao menos, podermos assentar nalguma objetividade do mundo.
Agora, todos os governos são heróis e herdaram um trágico passado, que miraculosamente vão debelando, e prometem já aí um futuro de leite e mel, em cheia pacífica nestas açóricas ribeiras. A dívida pública encolhe a olhos vistos, independentemente do que diga o INE; a precariedade laboral vai acabar já para a semana, e Lisboa manda naus de mau vento, responsável por tudo o que de menos bom ocorre nas insularidades.
Ainda que nunca tenha havido entre nós tantas medidas de solidariedade e de mitigação da crise inflacionista de carácter nacional como agora. É o preço de chamar à sobrevivência estabilidade, e ao bodo possível desenvolvimento!