Muitos de nós, quando éramos crianças, sonhámos um dia ser veterinários. Para quem gosta de animais, passar o dia a cuidar deles, ajudando-os a ficarem melhores é um sonho realmente maravilhoso.

No entanto, nem tudo são rosas. A profissão exige bastante estudo e uma dedicação que ultrapassa o imaginário. E exercê-la é outro grande desafio. É uma das profissões mais cansativas, sujeita a muita pressão e muitas exigências.

Os animais fazem cada vez mais parte do quotidiano das famílias e a consciencialização dos seus direitos e do seu bem-estar cada vez mais faz parte das preocupações dos seus cuidadores. E ainda bem que assim o é!

Os Médicos Veterinários oferecem o seu conhecimento para causas nobres. A causa animal é uma das maiores e mais nobres causas do mundo.

Trabalham, na maioria dos dias, acima das 10 horas por dia, com turnos e horários de urgência quase sobrenaturais. Cuidam com toda a sua dedicação, deixando para trás, muitas vezes, a sua vida pessoal (se é que um médico veterinário ainda tem vida pessoal!).

Pedem desculpa todos os dias à família por não estarem presentes nas datas importantes, na hora do jantar, na hora de deitar os filhos…. Pedem desculpa por todos os animais, que mesmo assim, não conseguiram salvar… E pedem desculpa a si próprios, por o amor a esta causa ser maior que todo o seu sacrifício!

Mas, infelizmente, vemos muitas vezes uma inversão de valores na nossa sociedade. A estes profissionais muitas vezes é-lhes exigido que trabalhem quase de graça, quase como prova do seu amor ou dedicação à profissão. E estamos a falar de uma classe, em que muitos recebem pouco mais que o ordenado mínimo.

Mas alguém trabalha de graça, alguém consegue pagar as suas contas trabalhando de graça?

Estes profissionais são humanos, têm família, casa e contas para pagar, como todas as outras pessoas.

Precisamos mudar já, e de forma direta, a atual inversão de valores da nossa sociedade. Problema maior é quando essa inversão de valores também está impregnada em quem nos governa.

No plenário do Parlamento dos Açores de fevereiro, durante o debate das propostas de alteração ao diploma que estabelece as medidas de controlo da população de animais de companhia ou errantes, o Secretário Regional da Agricultura, António Ventura, acabou mesmo por acusar os médicos veterinários de “andarem a sacar dinheiro às pessoas”.

Estas declarações são graves, colocam em causa a idoneidade de toda uma classe e faltam ao respeito a todos os profissionais que dedicam a sua vida aos animais. Esta postura não é digna de um membro do Governo!

Medicina Veterinária é uma profissão que, como tal, deve ser valorizada, acarinhada e protegida. Especialmente pelos nossos governantes!

O acesso a uma assistência veterinária de qualidade é essencial, por exemplo, para concretizar o Abate Zero com eficácia.

A existência de uma assistência veterinária de qualidade na Região deveria ser motivo de orgulho por parte de quem nos governa, não motivo de desdém.

Não! Os médicos veterinários não “sacam dinheiro às pessoas”! Trabalham dignamente, honram a sua classe e melhoram a nossa sociedade.

É calunioso o que o Secretário Regional da Agricultura, António Ventura, disse e em nada dignifica o lugar que ocupa.