Opinião

A explicação do desnorte

Tem explicação, o desnorte. Nada mais compreensível. A alternativa governativa a quem o povo desejou ver no governo açoriano é afinal quem o governa. A nenhum dos atuais governantes concedeu o povo o seu voto maioritário para que, muito naturalmente, assumisse a governação. É isto factual. Explicará isto bastante.

Recordemos a situação, por todos nós certamente vivenciada enquanto alunos, daquela aula em que se procedia à democrática eleição do delegado de turma. A senhora ou o senhor professor diretor de turma, dava então início ao pedagógico processo eleitoral distribuindo uns papelinhos em branco por todos os alunos da turma para que cada aluno, de acordo com a sua própria consciência, secretamente votasse no colega que mais desejaria ver como seu representante a delegado de turma. Muito bem, digo eu. Até aí tudo certo. Nada a realçar senão mesmo a própria transparência do processo.

Imaginemos agora a situação em que, tendo a turma 20 alunos, 9 votariam na menina Maria, por exemplo, 6 no menino António, 2 na Isabel, 2 no Raúl e 1 na Joaquina. Claramente eleito o António... certo?! É que juntando os 6 votos do António aos 2 da Isabel, mais aos 2 do Raúl e ainda ao 1 da Joaquina, ou seja, aos demais que não os da menina mais votada - a Maria - estará afinal encontrada a derrotada!... Isso! A Maria. E como o António será, na perspetiva de quem tomou a decisão final - o DT -, o mais adequado aluno ao desempenho de tais funções, foi então ele o escolhido.

O escolhido, sim, disse-o bem, e não propriamente o vencedor porque eleito pela turma. E então agora, pergunto eu: os alunos da turma, eventualmente até mesmo o António, terão mesmo achado que o resultado final foi realmente assertivo do ponto de vista de corresponder ao desejo de quem democraticamente confiou seu voto?

Bem sei que no nosso sistema democrático não se vota na pessoa que efetivamente lidera cada partido a votação, bem sei. Tudo ok. Bem sabemos todos isso. Mas não será, pergunto eu, que com um idêntico sentimento ao dos alunos da turma, também o povo açoriano se sentirá irremediavelmente ultrapassado pela vertical e soberana decisão final, no fundo supra democrática, dado que acima mesmo da sua própria vontade? E a questão aonde quero chegar é afinal esta: esta fintinha final de secretaria, jogo já encerrado, não justificará em muito o atual desnorte de quem foi posto a liderar?

Perguntas, meus senhores, são perguntas, e a entender sem ofensa, espero eu bem, ouvindo eu sempre a voz do povo...perguntar não ofende, certo?!...