Opinião

Que sorte a nossa!

Numa altura em que se aprofundam as consequências sociais e económicas de uma crise de saúde pública, que ameaça ficar entre nós por tempo indeterminado. Quando constatamos um perigoso pulsar de sentimentos bairristas, que já julgávamos banidos da nossa convivência democrática e autonómica. E, como já não bastasse sermos governados por uma coligação contranatura, onde cada partido perde mais tempo a vigiar as táticas dos outros, do que a resolver os problemas dos açorianos, eis que nos surge um PSD, que em vez de ir buscar o melhor dos seus pergaminhos, do tempo em que foi governo na Região, opta por recuperar uma das facetas mais negras da sua existência: a de censurar informação jornalística!
Parece que este PSD ainda não percebeu que o tempo em que se “apertava” jornalistas porque se lhes cofinanciava a formação e os salários, ou se procurava “endireitar” alinhamentos do telejornal, pervertendo a importância pública das notícias, ou ainda se dizia à boca pequena que não se “gostava” de genéricos de telenovelas, acabou!
É que os tempos mudaram! Hoje, já todos interiorizarmos o valor da liberdade de informar e o dever que temos de proteger quem nos informa, primados que estão associados ao direito de conhecermos os factos com verdade e transparência!
Assim sendo, é mesmo preciso que o atual governo interrompa a caminhada que tem vindo a fazer nos propósitos finais de não informar, de não comunicar e de governar não prestando contas. Em seis meses não podiam fazer melhor do pior! Atenda-se no seguinte:
Depois de anunciarem o fecho do gabinete de apoio à comunicação social (GACS), porque era muito caro mantê-lo e porque lá só se fazia a papinha noticiosa a jornalistas que não queriam trabalhar!
Depois de não quererem constituir uma comissão na ALR, para acompanhar o estado da pandemia e o processo da vacinação, alegando que os briefings da autoridade de saúde seriam suficientes!
Depois de decidirem não dar conferências de imprensa após as reuniões do governo, porque as informações a prestar podiam ser contraditórias, incompletas e a destempo e que seria necessário fazer desmentidos e correções!
Depois de se disponibilizarem apenas uma vez para falarem com o líder do partido mais votado nas últimas eleições, para receberem contributos acerca do que ainda temos que enfrentar sobre esta pandemia que nos confina; agora, através da autoridade de saúde ainda se dão ao luxo de censurar o trabalho de uma jornalista, que não foi além do relato de uma evidência sensorial, que ficava a poucos metros da porta do seu jornal.
Pela nossa parte, respeitamos a autoridade de saúde e agradecemos tudo o que tem feito, mas, caro Dr. Tato Borges, para bem de todos, e para sairmos desta crise o mais rapidamente possível, seria bom que começasse  a respeitar o nosso modus vivendi, os nossos processos identitários e quadros mentais, aos quais, por vezes, até nós próprios não conseguimos fugir, porque são o resultado dum modo de ser e estar nestas ilhas, do que fomos e somos, que, como se sabe, é fruto e condição de uma geografia penosa e de uma história difícil.
Assim sendo, peço-lhe que tenha paciência connosco, porque também já está a ficar difícil aceitar as suas pausas fonéticas, como a dar a entender que nesta ilha somos uns pacóvios, também já está a ser muito difícil aturar as suas gargalhadas técnicas, e agora, está a ser dilacerante ouvi-lo e vê-lo a criticar o trabalho dos nossos jornalistas!
Por tudo isso, caro Dr. Tato Borges, concentre-se no seu trabalho, respeite a diferença, controle o riso, reduza as interjeições verbais, melhore as expressões faciais, atenda à linguagem corporal, enfim, comunique melhor!
Mas, quando jornalistas com a categoria de Paulo Simões, Osvaldo Cabral, Carlos Tomé e Teresa Nóbrega são unânimes na crítica à sua forma de comunicar, é sinal claro que já entramos em época de agradecimentos e despedidas!?

PS: Segunda-feira, o Presidente do Governo foi à redação do jornal Açoriano Oriental, pedir desculpa pelas tontices de Tato Borges. Domingo, terá que ir à missa da Igreja de São José, pedir uma bênção pelo chorrilho de asneiras que Paulo Estêvão escreveu sobre o padre Duarte Melo! Vidinha difícil, êh!?