Opinião

“O papel aceita tudo.” E os Açorianos?

29 a favor. 28 contra. O programa do XIII Governo dos Açores foi aprovado. Um programa que, pelo que resulta da totalidade das intervenções – mais críticas ou mais elogiosas – é o documento possível. Vago q.b.; sem medidas com datas de execução previamente definidas; com promessas o mais vagas possíveis; com pitadas de demagogia e páginas e páginas de bonitos floreados… Parafraseando o Deputado Nuno Barata, o apoiante menos efusivo da coligação, temos um programa que é a prova inequívoca de que “o papel aceita tudo”. E este, acrescento eu, é apenas mais um exemplo disso. O primeiro no atual quadro parlamentar. Mas, a partir de agora, a “música” vai ter de ser diferente. O tempo das linhas genéricas e abstratas acabou com a aprovação do programa do Governo. Temos, formalmente, o XIII Governo dos Açores na plenitude das suas funções. O que significa que a postura do “estou aqui, mas é como se não estivesse”, tão típica do político Bolieiro e que contundentes críticas públicas mereceram do arrependido Estevão e de outros, mais em surdina, convertidos em governantes ou em apoiantes de ocasião, terá de mudar radicalmente nos próximos tempos. Governar, mesmo que em Ponta Delgada não tenha sido assim, implica decidir. Fazer escolhas. Traçar um rumo. Definir metas. Fixar objetivos. E muita, muita, responsabilidade. Ao candidato que se apresentou com o slogan “Confiança”, e cuja resposta foi clara em 7 das 9 ilhas, exige-se agora, nas vestes de Presidente, após lhe terem imposto uma manta de retalhos resultante da aritmética parlamentar conjugada com a total subtração de princípios e valores, um verdadeiro transformismo político. E, em nome da verdade, impõe-se referir que até nem começou nada mal. Ora vejamos os seguintes três exemplos: 1. A impreparação da maioria dos governantes, vindas a público através do silêncio perante perguntas concretas de alguns Deputados, exigirá doses exacerbadas de transformismo. É que, pela amostra, ficou desde já evidente que estamos na presença de alguns notórios erros de casting na bancada do executivo regional. 2. Não deixou de ser caricato ver a defesa de políticas que mereciam anteriormente severas críticas por serem executadas pelo Governo anterior e que agora, ficando claro que o caminho será o da continuidade, são já alvo de rasgados elogios. Sai mais uma grande dose de transformismo! 3. Confiem em mim. Aquilo que eu digo é para fazer. Só prometo o que sei que posso cumprir. Estas frases, mais palavra menos palavra, foram verbalizadas, repetidas vezes, pelo candidato Bolieiro durante a última campanha eleitoral. Acontece que a realidade não combina com as palavras ditas, nem com as palavras escritas no programa do Governo. E não me refiro apenas ao aumento do número de pessoal político, isto é, de membros do Governo ou do número de direções regionais e serviços equiparados… A incongruência, insanável entre as palavras e as ações, é múltipla, variada e exigirá muito transformismo. A terminar, importa referir que os Açorianos, cujo voto foi alvo de uma interpretação deturpada, uma vez que nenhum eleitor votou nesta solução pela simples razão da mesma nunca ter estado em cima da mesa, aguardam por soluções concretas e respostas específicas a cada um dos seus problemas e anseios. E, para tal, exige-se que assumam as suas responsabilidades e… governem!