Opinião

Um copo de água; um elefante e o tamanho da manta de retalhos

I

O líder parlamentar do PSD, Deputado Pedro Nascimento Cabral, entrou com o pé esquerdo na Assembleia Regional. Ou melhor, entrou a mostrar o que podem esperar todos aqueles que ousarem questionar, com insistência e habilidade, o elenco governativo nascido da soma simples de cabeças que olvidou o conteúdo contraditório, entre si, das mesmas. E o que disse, então, o Deputado Nascimento Cabral? No meio de uma referência à “arrogância dos 20 anos de governação” e vendo que o Deputado Vasco Cordeiro estava a beber um pouco de água disse, exaltado e com o dedo em riste, o seguinte: “o senhor vai beber esse copo de água até ao fim. Vai beber. O senhor vai beber esse copo de água até ao fim. Custa, eu sei que custa… Habitue-se! Tem que se habituar, senhor Presidente… senhor Deputado. Veja lá que ainda não me habituei a chamá-lo de senhor Deputado.” O debate político, por vezes, é duro. Mas exige-se, sempre, elevação e respeito! Temos, portanto, um PSD, rejeitado nas urnas desde 1996, que se apresenta em 2020 com alguns protagonistas “recauchutados” e… com os tiques e práticas do velho PPD. Habituem-se!

II

Durante o debate do Programa de Governo, o senhor Secretário Bastos e Silva indicou que os três apoios investigados por Bruxelas, no valor de 73 milhões de euros, foram considerados "ajudas públicas ilegais" porque "não obtiveram autorização prévia" da Comissão Europeia. Acrescentando, logo de seguida, que a SATA "tem de devolver à região" esse montante, e sem esse processo concluído não poderá avançar a transportadora para a sua reestruturação. Por fim, referiu ainda que “a decisão foi transmitida com muita clareza, de uma forma que permitisse construir uma solução que não arrastasse a falência da empresa". Acontece que uns minutos depois, perante a imediata solicitação do PS para efeitos de distribuição aos debates da referida decisão, o senhor Secretário - para incredulidade geral - referiu tratar-se de “uma comunicação informal através de videoconferência”. Esta informação, dada primeiramente como decisão formal e já transitada em julgado, foi, pouco tempo depois, totalmente refutada por Bruxelas que, de acordo com a Agência Lusa, transmitiu que “a investigação sobre alguns apoios públicos à SATA continua”. Ora bem, uma coisa ficámos a saber: a precipitação e mentira transmitidas pelo senhor Secretário demonstra que o caminho é esperar, sentado, pelo pior desfecho possível. Temos, portanto, um Secretário em modo “elefante numa loja de porcelana”. Habituem-se!

III

A orgânica do XIII Governo Regional dos Açores foi publicada no passado dia 10. Temos, assim, de forma oficial, o maior governo da história da Autonomia. São, nada mais nada menos, do que 62 (!!) titulares de cargos governamentais. Mais 19 (!!) do que no Governo cessante. A saber: 13 membros do governo; 32 direções regionais; 8 inspeções; 2 serviços; 2 centros; 2 institutos; 1 laboratório; uma entidade e uma secretaria geral. Ufa!!! Felizmente, temos um governo que veio para despolitizar, despartidarizar e desburocratizar. Felizmente, temos um governo cujo programa defende “a diminuição do peso do Estado e da Região”; defende a “redução do número de Deputados”; defende a “redução da dimensão do setor público empresarial regional”; defende “uma racionalização das estruturas administrativas e respetivos custos, com a redução de dirigentes e de gastos correntes (…)”, e por fim, que defende “reduzir o número de cargos políticos e de nomeação”! Temos, portanto, um governo inspirado em Frei Tomás… Habituem-se!