Opinião

Dr.ª Graça Freitas e o submundo das redes sociais

As redes sociais, designadamente o Facebook que é aquela que confesso utilizar mais, são a cada dia que passa um local perigoso e, por isso, pouco recomendável. Provavelmente, trata-se de mais uma consequência indireta da terrível pandemia que assola o mundo há quase 9 meses. Vem isto a propósito das reações que, infelizmente, li, em diversas caixas de comentários dos mais variados órgãos de comunicação social e também em múltiplos “post’s”, a propósito da notícia que dava conta que a Dr.ª Graça Freitas, Diretora-geral da Saúde, estava infetada com Covid-19 e que se encontrava em isolamento com sintomas ligeiros da doença. As referidas reações, que se podem resumir num misto de júbilo com desejos do pior que se possa imaginar, são demonstrativas do atual estado do Portugal virtual. Nesse país, os ideais defendidos pelo André Ventura configuram uma simples entrada. As calúnias permanentes; as difamações constantes; as insinuações maldosas; o ódio destilado sobre tudo e todos; o total desprezo pela vida do outro e a sede insaciável de sangue são o rodízio preferido de milhares e milhares de cidadãos que, com foto e identidade verdadeira ou a coberto de um qualquer perfil falso, passam o tempo das suas miseráveis vidas a navegar entre caixas de comentários. O caso da Dr.ª Graça Freita é apenas um exemplo. Trata-se, apenas e só, de mais um dia de trabalho no escritório dos medíocres, infelizes e pobres de espírito que estão em franco crescimento no tal submundo das redes sociais. Mas, mesmo conhecendo um pouco deste autêntico “faroeste virtual”, tenho de confessar que fiquei revoltado e chocado com o nível a que as “pessoas” conseguem chegar. Revolta é o mínimo que se pode sentir ao ler comentários de “pessoas” tremendamente satisfeitas pelo facto da “velha” ter apanhado Covid-19. E em choque fiquei ao ler, inúmeros, comentários de “pessoas” que, sem um pingo de dignidade e respeito, escreveram, com todas as letras, coisas como: “estava a ver que nunca mais ia de vela”; “a velha já vai é tarde”;  “oxalá nem chegue a ocupar uma cama num hospital”; “espero que não vá sozinha”; etc… etc… Um nojo! Ler coisas destas escritas, supostamente, ao abrigo de um dos mais importantes pilares do Estado de Direito Democrático que é a liberdade de expressão e que, inclusivamente, é invocada pelas tais “pessoas” quando alguém, em resposta aos tais indignos desejos, tenta dizer que não vale tudo, deixa-me chocado e muito nauseado. Liberdade de expressão não é, não poderá ser nunca, escrever tudo aquilo que nos passa pela cabeça. A liberdade de expressão tem regras, filtros e limitações. A Ética e a Moral deviam representar linhas vermelhas para todos, o que teria como consequência direta não entrar na área dos crimes tipificados no Código Penal. Mas, em nome da verdade, quem escreve coisas como as que li não tem qualquer noção de ética, moral ou da moldura penal prevista para determinadas ações. Nem, infelizmente, do facto de viverem num País que (cf. artigo 1.º da Constituição) “é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.” Em nome do outro Portugal, o verdadeiro: Votos de uma rápida recuperação, Dr.ª Graça!