Opinião

Uma oposição construtiva

Pouco me importa se um governo é constituído por muitos “velhos” ou por muitos “novos”, pois entendo que os critérios que devem presidir à escolha dos governantes são: competência, honestidade, zelo e honra em servir a causa pública. Características e desígnio que são transversais a todas as idades e que na teoria democrática apontam para que as escolhas recaem sobre os melhores, embora se saiba que muita pragmática partidária e governativa acabe por introduzir entorses nestes pressupostos.
Vem esta introdução a propósito do burburinho que vai trespassando o PSD por causa do processo de nomeações para a formação do governo, facto que tem sido diagnosticado como a primeira “cessação” interna daquele partido depois das eleições, mas que na realidade sabemos não passarem de alguns “espasmos” de descontentamento ocasional que rapidamente serão absorvidos pelas dinâmicas de governação.
Assim sendo, alerto os socialistas para não perderem o seu tempo com essas pequenas estrias do maior partido da coligação, porque delas nada resultará de concreto em termos do somatório das causas da oposição que se quer fazer, aliás, como foi demonstrado em 1996, quando da formação do primeiro governo do PS, em que alguns militantes manifestaram descontentamento com a nomeação de “independentes”, querela que o PSD e alguma imprensa de imediato deram grande ênfase, mas que pouco depois desapareceu, sem causar mossa no governo, ficando a oposição de mãos a abanar, quando chegou a pensar que tinha ali um primeiro filão político a explorar.
Se o Partido Socialista quer começar a preparar o seu regresso ao governo da Região, a primeira coisa que há a fazer é garantir serenidade na passagem de “pastas” para aqueles que estão agora a ser nomeados e mostrar disponibilidade para num tempo razoável prestar todos os esclarecimentos eventualmente solicitados. Aliás, muita gente ainda se lembra dos autênticos alçapões que os governantes do PSD deixaram quando saíram do governo em 1996, cuja demora de ultrapassagem das dificuldades deixadas prejudicou em muito os açorianos, mas que em certa medida até ajudou a prolongar o estado de graça do primeiro governo do PS, que passado um ano já estava disposto e ir a eleições antecipadas, facto que na altura amedrontou o PSD, levando a que mais tarde o PS viesse a consumar a sua primeira maioria absoluta.
Portanto, e para já, humildade e disponibilidade são as palavras de ordem a cultivar no interior do PS e nos que vão passando testemunho, até porque estados de alma, por muito justos que possam ser, nesta fase não ajudam o partido a encetar uma nova caminhada. Quanto mais depressa o partido assumir-se como oposição, mais cedo começa a preparar o seu regresso ao poder na Região.
Sendo importante também perceber que de imediato os principais ativos do PS são:
Os mais de 40% de votos obtidos nas últimas eleições e que representam 25 deputados na ALR; o presidente Vasco Cordeiro que pode ser candidato em próximas eleições e que detém um elevado capital eleitoral junto dos açorianos; o vigor das autarquias do PS, que foram determinantes nos últimos resultados eleitorais, mas que agora precisam de apoio para as suas próprias eleições; o imenso legado deixado pelos seus governos com a concretização de muitas aspirações dos açorianos por todas as ilhas; e, por último, mas não menos importante, os seus militantes e simpatizantes, onde se inclui os deputados eleitos, que agora precisam mostrar resiliência para estarem no ingrato papel de oposição, que terá de ser mesmo uma oposição construtiva, porque de outra forma os açorianos não entenderão, considerando o contexto em que vivemos.