Opinião

Crescimento Azul

Na maioria dos eventos que tenho organizado no Parlamento Europeu o mar é o denominador comum. Tenho convidado cientistas marinhos e confrontado as suas ideias com os diferentes grupos de interesse na tentativa de encontrar oportunidades ainda não exploradas, limitações na utilização e fragilidades na legislação passíveis de serem melhor governadas através da ação parlamentar. Os resultados têm sido interessantes e tenho integrado esta aprendizagem nos diferentes trabalhos que aqui dirijo ou em que colaboro. Noto, porém, que há uma certa ansiedade com a necessidade de crescimento e de justificar qualquer ação com os alegados benefícios económicos e sociais. Curiosamente, penso que a estratégia, neste momento e na Europa em termos globais, deve passar mais por uma alteração dos padrões de crescimento e de consumo. Atentemos em três aspetos do nosso dia-a-dia. Começa a ser um lugar-comum referir que os índices de poluição estão a entrar em níveis insustentáveis. A esse título, vejam-se os permanentes avisos de poluição que se propagam por Pequim, Londres e Paris. Há alguns dias, imagine-se, ao chegar a Estrasburgo, uma cidade da região da Alsácia, no Sul de França, onde decorrem as sessões plenárias do Parlamento Europeu, todos os carros eram convidados a reduzir a velocidade em 20 km/h por haver demasiadas partículas poluentes na atmosfera. Isto não aconteceu numa megacidade industrial do mundo, era em Estrasburgo, uma pequena cidade rural Europeia. Claro que isto se passa em terra. E no mar? No mar, ainda não medimos os poluentes dissolvidos com a frequência necessária para entender totalmente os eventuais malefícios que estamos a provocar com a dissolução da poluição atmosférica. No entanto, há já alguns sinais perturbadores como seja o aumento da concentração de Mercúrio nos organismos marinhos. Outro caso resulta do aumento da concentração de Carbono na atmosfera oriundo da queima dos combustíveis. Este Carbono, invisível, vai-se dissolvendo e acumulando na água provocando um quase impercetível aumento da acidez. Para nós é impercetível, mas para os organismos marinhos com concha ou esqueletos quitinosos ou calcários, como é o caso dos bivalves, dos crustáceos, das esponjas e dos corais, mas também nos peixes ósseos, é uma ameaça muito séria. Nos estudos feitos no DOP, os colegas estão a constatar que os efeitos de pequenos aumentos na concentração de Carbono dissolvido provoca stress fisiológico com consequências diretas no desenvolvimento, reprodução e crescimento em numerosos organismos marinhos. Porventura, por deformação profissional, consulto livros históricos, ou pelo menos antigos, sobre peixes. Quando estas publicações incluem imagens de peixes estes são sempre enormes. Os peixes antigos, incluindo os fotografados, têm sempre maiores dimensões dos que hoje em dia são vendidos em mercados ou servidos nos restaurantes. O que lhes aconteceu? O que aconteceu é que a nossa voracidade tem sido de tal ordem que não deixamos os animais crescerem. O pior, no final do dia, é que a redução do tamanho individual dos peixes é o primeiro indicador de que os mananciais não estão em bom estado e, caso não se reverta o passo, serão conduzidos à extinção comercial. É esse o legado que queremos deixar aos nossos filhos? São três boas razões para refrearmos ou, pelo menos, polvilharmos o crescimento com a sensatez que a vontade de ter um futuro obriga. Quando falo em crescimento azul chamo sempre a atenção para a necessidade de definir caminhos e limites bem definidos. Com o que aprendemos com o crescimento acelerado que marcou as economias do século XX é importante defender que o “crescimento azul”, onde existem de facto oportunidade únicas a explorar, tem de implicar obrigatoriamente o respeito pelos limites ecológicos, pela geo e biodiversidade e pela cultura dos povos ribeirinhos. Ou seja, crescimento que permita a existência de um amanhã saudável.