Opinião

Crónica de família

Caro leitor, tenho de começar por lhe pedir desculpa. Este não é um artigo como os outros. Por ventura, encontrará poucos motivos de interesse naquilo que a seguir se escreverá, mas há ocasiões em que a melhor maneira de expor um ponto de vista é ilustra-lo com recurso ao nosso caso concreto. Perceberei perfeitamente se decidir não ir comigo até ao fim destas linhas, mas peço-lhe que pelo menos tente, que dê uma margem de tolerância e que faça de conta, por uns instantes, que não o incomoda o facto de estar a falar da minha condição pessoal. Vai ver que, no fim, esta história também tem uma moral e que o que verdadeiramente importa nem sempre é do domínio do cientificamente irrefutável. I. Tenho de resolver um assunto pendente com os TSD do deputado Joaquim Machado e, por essa via, com o PSD do deputado Duarte Freitas. Um como o outro têm uma preocupante e recorrente tendência para o condicionamento, transformando qualquer debate político e de ideias num novelo de insinuações e enredos. De cada vez que alguém rebate um argumento, acrescenta um outro ponto de vista ou simplesmente discorda da visão social-democrata (e eu estou a ser muitíssimo simpático ao partir do princípio de que há uma visão social-democrata), a reação de Duarte Freitas e dos outros do costume vem sempre embrulhada em remoques e aleivosias, procurando abranger a vida pessoal e familiar do interlocutor, o seu passado ou, na falta de melhor, o facto de ser do mesmo partido do Eng.º José Sócrates. Ao contrário do que o projeto de sindicato do deputado Machado insinua no seu mais recente comunicado, a minha mulher não exerce qualquer cargo de nomeação política no Centro Regional de Apoio ao Artesanato (CRAA), como, aliás, tive oportunidade de explicar ao deputado Joaquim Machado num dos intervalos da última sessão plenária na Horta, em resposta a esta mesma atoarda, dita então em aparte. Ela está no CRAA inscrita num programa ocupacional porque se encontra desempregada há mais de dois anos. Cumpridos os requisitos de acesso ao Recuperar e havendo disponibilidade e interesse do serviço de acolhimento. II. Já antes o PSD do Deputado Duarte Freitas tinha usado o percurso profissional da minha mulher para condicionar a minha ação política. Mandatou alguns escribas de serviço para fazerem um escarcéu com a sua nomeação para assessorar, na área da comunicação social, um membro do Governo Regional, como se ela não tivesse formação académica e experiência profissional para tal e como se não se tratasse de um cargo de confiança apenas sujeito a um juízo de natureza política. Não deixa de ser curioso que, cerca de três meses depois, quando ela deixou o referido cargo, ninguém do PSD tivesse escrito uma linha. E não deixa de ser ainda mais curioso que o próprio Duarte Freitas, quando era eurodeputado, tenha tido como assistente durante cinco anos o seu irmão, alegando então que não existia “qualquer obrigação moral ou política” que o desaconselhasse. Estou absolutamente de acordo e nunca mudei de opinião. A minha mulher e o irmão do deputado Duarte Freitas não deixam de ter competências e de merecer confiança política só porque são da família de titulares de cargos políticos. III. Escusado será dizer que retiro a aceitação do pedido de desculpas que me dirigiu o deputado Machado na Horta, quando confrontado com a realidade dos factos. Não é de homem honrado acusar, reconhecer o erro, pedir desculpa e depois voltar a acusar só para se desenvencilhar de um imbróglio político. Escusado será dizer também que não há insinuação ou maledicência que me façam recuar na defesa das minhas ideias, na luta pelas minhas convicções e no combate pelo melhor para os Açores. O mais grave, porém, é que ainda anteontem, numa sessão de pré-campanha, o Deputado Duarte Freitas tenha acusado o legítimo Presidente da Federação das Pescas dos Açores de não defender os interesses da classe só porque não aceita fazer coro com o discurso catastrofista do PSD. Se é assim na oposição, imagine-se (por muito que custe) o que não seria se fosse poder.