Opinião

Há tempos de voar como coruja e tempos de voar como falcão

A venda do país a pataco São cada vez em maior número as pessoas que estão fartas de ser enganadas pelo Governo do PSD/CDS de Passos Coelho. A história contada por este Governo começa, sempre, de uma forma muito simples: Há uma empresa – neste caso a TAP - que está falida devido a uma gestão pública irresponsável, no passado, e que para sobreviver necessita, rapidamente, de uma gestão privada europeia - como a lei obriga –, de preferência portuguesa, que injete dinheiro fresco e boas práticas de administração… O problema é que na vida real nada é tão simples quanto um “soundbite”, facilmente “vendido” por Marcelo Rebelo de Sousa ou por Marques Mendes na TV. Concretizado o negócio, ficamos a perceber que, como sempre, afinal, há sempre uns pormenores que alteram significativamente a narrativa do Governo - o que já se desconfiava pela recusa de Passos Coelho em divulgar os documentos que estabeleceram a privatização. Ficamos a saber que a equipa de gestão da TAP – a tal que conduziu a empresa a uma situação de dificuldades e que deu parecer favorável à privatização - vai continuar à frente dos destinos da empresa, que a empresa não tão portuguesa quanto isso, e que a tal injeção de dinheiro fresco vai ser feito à custa da venda de ativos – aviões - da própria empresa, que serão posteriormente alugados aos compradores. Ou seja, estes empresários que compraram a TAP por metade do valor do contrato de Jorge Jesus no Sporting, não vão injetar um tostão seu na nossa (antiga) companhia aérea, e vão vender aviões para financiar o negócio. Mas isso já não podia ter sido feito pelo atual Governo do PSD/CDS viabilizando, assim, a empresa sem ter de a privatizar!? Este caso é (mais) uma situação vergonhosa de logro e de “venda a pataco” de património dos portugueses. O Governo já vendeu o capital que o Estado tinha na EDP e na REN, privatizou a ANA Aeroportos, CTT, EGF - a gestora dos lixos - e ainda a Fidelidade e a Hospitais Privados de Portugal (da CGD), e em nenhum caso a interesse público saiu reforçado. Apenas algumas carteiras ficaram mais recheadas com os bons negócios. E prepara-se, agora para vender o que nos resta. É imperativo correr com esta gente da governação antes que voltemos à situação de 1482 e apenas “herdemos as estradas de Portugal”. Leviandade ou irresponsabilidade? Esta semana ficou marcada por (mais) um lamentável exemplo de irresponsabilidade política. Uma deputada acusou, na Assembleia Legislativa dos Açores, um empresário regional de ter ganho “milhões” à custa de um processo de expropriação de terrenos das margens da Lagoa das Furnas. A declaração “bombástica” mereceu, de imediato, reação do empresário citado, que veio esclarecer que, afinal – e ao contrário do que referiu a senhora deputada – não teve sequer qualquer terreno expropriado pelo Governo dos Açores. Qual foi a reação da senhora deputada que fez a “acusação”? Remeteu-se ao silêncio e, num exercício mirabolante de desresponsabilização política, inverte o ónus da prova. Ou seja, a deputada acusa, mas considera que não tem que provar as graves acusações. O acusado é que, por incrível que pareça, tem que fazer prova de que não é culpado do que lhe acusam. Neste processo, muito revelador do modus operandi de alguns partidos políticos, também resulta claro que o objetivo não era sequer esclarecer qualquer dúvida sobre a matéria. Porque, se assim fosse, Zuraida Soares não teria feito estas acusações recorrendo, de um modo que o leitor poderá classificar melhor do que eu, a uma figura regimental que não permite contraditório por parte do Governo. Ou seja, a deputada lançou para o ar acusações graves sabendo que o Governo estava impedido de responder em plenário. O objetivo é claro e por demais evidente. Sob a capa de uma pretensa elevação moral, lança-se a suspeição sobre cidadãos e instituições. As regras básicas do jogo democrático não se compadecem com esta leviandade que tem um único propósito: fazer um número mediático através de uma transfiguração: a deputada eleita arroga-se ao direito de se transformar em justiceira, sem cuidar sequer de saber se as acusações têm qualquer relação com a realidade. Quanto ao modo e à forma política adotada pelo Bloco de Esquerda, cada um que tire a sua conclusão. A minha é óbvia e pode ser uma das três, ou até cumulativamente as três: leviandade, irresponsabilidade e cobardia.