Opinião

A "Guerra" dos números

Na atualidade politica e no debate público assistimos várias vezes às “guerras” dos números e às diferentes interpretações das estatísticas e dos indicadores económicos e sociais. É a velha história do copo meio cheio e do copo meio vazio. Haverá sempre abordagens e perspetivas bem diferentes sobre os mesmos números, o que até consideramos legítimo se isso se basear em análises consistentes e devidamente fundamentadas. Isto a propósito das narrativas que têm sido utilizadas pelo PSD Açores no debate político. Afirmam que “70% dos agregados familiares vivem com menos de 500 euros por mês e que existem 170 mil pobres nos Açores”. A verdade é que não existe um único indicador, nem qualquer estatística que confirme estes dados. E quem tem insistido nas referências a estes números teima em não explicar em que é que se baseia para obter tais resultados. Os últimos e únicos dados oficiais que existem referente ao rendimento disponível das famílias açorianas publicados pelo INE, referem-se ao ano de 2011. Esses dados indicam que o rendimento disponível das famílias era por açoriano 11.913 euros por ano. Valor muito superior ao referido pelo PSD/Açores. Com base ainda nestes dados do INE cada açoriano tinha um rendimento líquido disponível por ano superior em 394 euros ao que usufruem os residentes no resto do país. Os indicadores estatísticos não são uma Bíblia, nem constituem verdades inquestionáveis, mas são importantes instrumentos de trabalho, que indicam tendências, resultados e evoluções que devem ser tidas em conta na definição e implementação das políticas públicas, bem como na geração de confiança, de consumo e de maiores e melhores dinâmicas económicas e sociais. Temos consciência das dificuldades e dos problemas da sociedade açoriana, mas hoje existem indicadores claros que mostram um caminho de recuperação na economia açoriana e os mesmos que falam mal de indicadores negativos, devem ter a coragem de reconhecer indicadores positivos. São legítimas discordâncias e diferentes interpretações, mas não nos parece correta a deturpação de factos, interpretações intelectualmente desonestas e, muito menos, a invenção de dados que não se encontram em lado nenhum, numa estratégia de gerar perceções erradas que não correspondem à verdade, como parece estar a fazer o PSD Açores. NOTA FINAL – Entendeu o Sr. Deputado José Andrade vir a terreiro desmentir algumas referências do meu ultimo artigo neste jornal intitulado Autonomia Sectária e Desleal. Sobre esse desmentido duas notas: - Apesar do esforço, o Sr. Deputado não desmente nada do que eu afirmei baseado nas notícias da Comunicação Social e em alguns comentários de desagrado que nos chegaram de alguns presentes; - Refere informação errada sobre as datas de criação de um grupo de trabalho pela Conferência de Lideres sobre as Comemorações dos 40 anos da Autonomia, dando a ideia que o grupo foi criado depois das propostas do PSD. Tal referência não corresponde à verdade como poderá confirmar o seu colega representante do PSD na Conferência de Lideres.