Opinião

Memória curta

Na semana passada, o PSD Açores agendou no Parlamento um debate de urgência sobre investimento público e crise social. Mais uma vez, à semelhança do que tem feito nos últimos tempos, o PSD Açores tenta reescrever a história e ignorar fatores externos que condicionaram e ainda condicionam brutalmente a economia açoriana. Qualquer discussão séria sobre estes temas não pode ignorar a crise internacional, a maior crise dos últimos 100 anos, e os impactos das medidas de austeridade nacional. Recorde-se dois dados bem demonstrativos disso. Se compararmos o dinheiro injetado na economia açoriana nos últimos anos pela banca, verificamos que em 2007 essa “injeção” foi de cerca de 600 Milhões de euros. No final de 2011, esse valor estava nos 67 Milhões de euros negativos. Outro dado é o facto de uma das primeiras medidas do atual Governo da República, a sobretaxa que retirava aos trabalhadores metade do subsídio de Natal, ter retirado da economia açoriana cerca de 25 Milhões de euros, numa época onde o pequeno comércio tem uma atividade comercial muito relevante. Essa medida aumentou as fragilidades desse setor, empurrando muitos funcionários para o desemprego e muitas dessas lojas para a falência, como infelizmente ainda hoje se constata na baixa das várias cidades açorianas. Depois desta medida, todos se recordam do brutal aumento de impostos, dos cortes nas pensões e nos ordenados, do fim do subsídio de férias e de Natal e da sobretaxa de IRS que reduziram brutalmente o rendimento das famílias e que tiveram um impacto enorme também nos Açores. Tudo medidas que não constavam do Memorando com a Troika e que, por isso, foram uma opção política do atual Governo da República. Perante este cenário o Governo arregaçou as mangas e optou por desenvolver um conjunto de medidas que amenizam os impactos desta conjuntura, reduzindo a taxa de esforço das famílias e apoiando a atividade empresarial. O alargamento da remuneração complementar, o aumento e manutenção do complemento ao abono de família, do complemento de pensão dos idosos, do programa de aquisição de medicamentos, da manutenção da ação social escolar, os programas de ocupação para quem não tem subsídio de desemprego, a redução de impostos que abrangerá cerca de 90% das famílias açorianas ou os programas de apoio à atividade empresarial são alguns exemplos desse esforço. O proponente deste debate, apoiante desde a primeira hora das medidas de Passos Coelho, ignora as causas e motivos da situação, critica, diagnostica problemas, mas não aponta soluções e propostas credíveis e consistentes. Não escamoteamos problemas, nem recusamos responsabilidades. Mas exige-se uma abordagem séria, que tenha em conta todos os fatores e, sobretudo, exige-se o empenho de todos na resolução dos problemas. Diz-se muitas vezes que o povo tem memória curta. Espera-se que assim não seja, acreditando na sabedoria do povo açoriano, que não se deixará enganar.