Opinião

Incompreensível

Há histórias reais que sendo fáceis de contar são dramáticas de concluir, ao ponto de ser chocante confrontarmo-nos com o seu desfecho. Uma das melhores tradições da política portuguesa era a forma natural como se geravam rápidos unanimismos em torno da necessidade de auxílio de regiões do País assoladas por calamidades. Fossem sismos violentos, incêndios, cheias, vendavais, ou outras calamidades naturais. A política exprimia fielmente a cultura solidária da generalidade do povo português. Entretanto, em Março de 2013, uma tempestade violenta abateu-se sobre os Açores. As ilhas Terceira e São Miguel foram as mais fustigadas, tendo nesta última ocorrido a perda de vidas humanas. Os prejuízos das intempéries ascenderam a 35 milhões de euros. 90% do custo da recuperação é da responsabilidade do Governo Regional, por ter ocorrido em infraestruturas regionais, e os restantes 10% estão a cargo dos municípios. O Governo de Passos Coelho e Portas nunca compreendeu esta situação, pois facilitou o acesso ao endividamento aos municípios mas não avançou com um auxílio relevante ao Governo Regional. Por iniciativa do PS-Açores desencadeou-se um processo legislativo para corrigir esta enorme injustiça. Foi esta proposta que foi a votos na Assembleia da República (AR) na passada sexta-feira. Depois de uma argumentação tétrica a proposta de apoio aos Açores foi chumbado pela maioria. Na AR, o PSD e o CDS votaram contra uma iniciativa que foi unânime no Parlamento dos Açores. As exceções foram as abstenções de dois parlamentares do CDS e dos três deputados do PSD eleitos pelos Açores. E é aqui que se coloca o busílis da questão. Como é possível que os três deputados do PSD-Açores na AR se tenham abstido nessa votação? Como compreender que o ex-presidente dos Açores, que se deparou com as dificuldades da reconstrução do sismo de 1980, se abstenha num pedido de apoio aos Açores para fazer face à recuperação de uma calamidade natural? Há realmente histórias com finais absolutamente incompreensíveis. O Dr. Mota Amaral cometeu um erro que nem ele nem os Açores mereciam.•