Opinião

O estudo do Estudo

Já sabíamos da dificuldade que a nossa oposição, especialmente o PSD, tem em apresentar propostas próprias no nosso Parlamento, mas as últimas notícias tornam-se um pouco constrangedoras para quem pretende afirmar um rumo alternativo ao do atual executivo regional. Por muito meritório que possa parecer solicitar estudos para fundamentar decisões futuras, os estudos ou a sua ausência, não podem servir para, sucessivamente, adiar uma posição ou uma decisão sobre um assunto. Por exemplo, solicitar um estudo, sobre as potencialidades da base das Lajes, parece-me uma boa ideia, um contributo até interessante para a temática, mas não permite uma caracterização da posição de uma força política sobre a situação da base americana. Não é normal a uma força política (dita) de poder solicitar ao Governo que realize um estudo sobre “importância geoestratégica e geopolítica dos Açores”, sobre todos os domínios e áreas possíveis - “tecnológica, científica e económica”. Não é normal, porque, em primeiro lugar, ninguém encomenda estudos sobre “generalidades” ou sobre temas muito abrangentes. A primeira regra (vem em qualquer manual sobre a matéria) sobre o objeto de um estudo é ser o mais específico possível para que a análise possa ser também o mais concreta possível e, portanto, mais fiável e concretizável. Em segundo lugar também não é normal, que um partido como o PSD, com um “gabinete de estudos” tão proclamado, não perceba, que estas são matérias de “Programa de Governo”, sobre as quais deve ter, obrigatoriamente posição. O PSD, como maior partido de oposição que é, deve ter uma estratégia própria para a tecnologia e investigação científica nos Açores, tendo em conta as nossas potencialidades no contexto mundial. O PSD, como maior partido da oposição que é, deve ter um programa sobre o desenvolvimento do turismo, da agricultura, das exportações, dos portos, dos aeroportos, dos transportes aéreos, etc., tendo em conta a posição geoestratégica da nossa terra. O PS e o Governo têm, há muito tempo, um estudo sobre as potencialidades dos Açores. Esse estudo chama-se: Programa do Governo! Foi com esse estudo que o PS ganhou as eleições e formou governo. O PSD, como maior partido da oposição que é, pensávamos nós que também teria uma posição sobre os transportes marítimos. Pensávamos erradamente. Pois da proposta que tiveram (durante dois meses) dos dois navios que transportariam carga rodada entre as 7 ilhas, pouco ou nada restou. Apenas a vontade de criticar, permaneceu, e de exigir que se parasse o processo de desenvolvimento dos transportes marítimos inter-ilhas para “estudar”. Se agora ouvíssemos o PSD, não tínhamos navios a operar durante o Verão, pois foi o PSD que acabou com o transporte marítimo de passageiros com caracter regional. E se assim fizéssemos, ainda não tínhamos construídos e a operar os dois navios de passageiros e viaturas no Grupo Central, o “Gilberto Mariano” e o “Mestre Simão”. Relativamente à construção de 2 novos navios para a operação sazonal, o Governo dos Açores tem uma estratégia e uma posição fundamentada, inclusive, apresentada aos Açorianos durante as eleições regionais. O mesmo não podemos dizer deste PSD desorientado, que, aliás, com esta estratégia inaugura uma inovadora forma de fazer oposição: A de pedir ao Governo que estude que posição deve tomar o PSD! P.S. - Se, porventura, eu pretendesse entrar na mesma linha política do PSD, proporia que o “gabinete de estudos” do PSD fizesse um estudo sobre o que correu mal ao Dr. Duarte Freitas nas eleições autárquicas e europeias. Mas isso seria uma perda de tempo porque muitos sociais-democratas já tiraram as suas próprias conclusões e estão só à espera de timing.