Opinião

O Estado do país

As boas notícias Nos últimos dois meses temos assistido a uma enorme campanha mediática do Governo da República de anúncios de estatísticas que alegadamente comprovam que estamos a entrar num novo ciclo de crescimento económico. A contribuir para este sentimento, o desemprego e a queda do PIB tem vindo a desacelerar e os juros da dívida portuguesa tem vindo paulatinamente a descer. Ajudando à festa, ainda recentemente o banco Comerzbank, com origem na Alemanha, grande detentora da dívida pública portuguesa, classificou o nosso país como o “verdadeiro milagre económico ibérico”. Curiosamente, nesta mesma semana, uma empresa gestora de fundos de investimento americana classificava este milagre económico como um mito e a sustentabilidade da dívida pública portuguesa como uma interrogação. Mas por muito que quiséssemos classificar o país como um “milagre económico” (e como seria bom que assim fosse!) os factos vistos ao pormenor são uma autêntica desilusão: A nossa balança comercial é positiva devido ao aumento das exportações, mas sobretudo devido à quebra brutal do consumo interno. Mas mesmo admitindo, por mera hipótese académica, que o consumo interno nunca recuperará, voltando a desequilibrar a balança negativamente (o que é absurdo!), ao ritmo atual, segundo o jornal Expresso, precisaríamos de “128 anos para equilibrar a posição líquida de investimento internacional”. A dívida pública continua a crescer, atingindo já em 2013, 127,8% do PIB. O desemprego baixa à custa da emigração, que aumentou para um valor recorde na ordem dos 4% e os que cá ficaram, mais de um milhão de desempregados, 500 mil não têm qualquer tipo de apoio social, ficando entregues à família ou à caridade alheia. Se este era o “milagre económico da pobreza” que o Governo tencionava apresentar aos portugueses, bem nos podia ter avisado na altura das eleições… Coadoção “Quando duas pessoas do mesmo sexo sejam casadas ou vivam em união de facto, exercendo uma delas” (já) “responsabilidades parentais em relação a um menor, por via da filiação ou adoção, pode o cônjuge ou o unido de facto coadotar o referido menor”. Apresento a minha opinião para que não haja dúvidas sobre o que penso: Sou a favor da coadoção por casais do mesmo sexo e caso haja referendo votarei neste sentido. Posto isto, a recente aprovação pela Assembleia da República, apenas com os votos dos deputados do PSD, de uma proposta referendo sobre a coadoção por casais do mesmo sexo é um ato que envergonha a classe política e as nossas instituições democráticas. Não apenas por se perceber claramente que o PSD considerou esta opção porque percebeu que o Projeto de Lei da Coadoção por casais do mesmo sexo, em discussão na AR, iria ser aprovado também pelos seus deputados e isso desagradaria as bases do partido. Não apenas por se perceber claramente que o PSD identificou esta questão como fraturante na sociedade, sendo por isso, uma ótima oportunidade para desviar as atenções durante os próximos meses sobre as suas responsabilidades na real e degradante situação do nosso país. Não apenas pelo facto do PSD ter obrigado, impondo a disciplina de voto na sua bancada, os seus deputados a votarem a favor de um referendo que nem todos concordavam. Não apenas pelo facto de, provavelmente, este referendo não servir para mais nada, a não ser para criar um clima de crispação na sociedade portuguesa, pois é provável que a abstenção exceda os 50% e o torne inválido. Mas sobretudo pela “extrema violência” que este referendo significa para as crianças que aguardam que o seu destino e o dos seus pais sejam decididos nas urnas. Para além de inconstitucional este referendo será, provavelmente, um pouco cruel para quem dele está dependente. Não se referendam direitos humanos!