Opinião

Re(nova)

No passado fim-de-semana decorreu o XIX Congresso Regional do PSD/Açores, no qual Berta Cabral reafirmou a vontade de mudança e a sua fé de que será, finalmente, presidente do Governo Regional dos Açores. O finalmente não é inocente, e já tive oportunidade de aqui referir o excelente sketch dos Contemporâneos sobre a vontade de regresso do PSD ao poder e de que forma isso se reflecte no reboque do seu discurso e na inconsistência das algumas ideias que defendem como alternativas décollage do já implementado pelo Governo Regional do Partido Socialista, única e exclusivamente para aproveitar a onda de direita que vem varrendo os países europeus. Também já tive oportunidade de considerar sobre o silêncio após a validação das contas da região, assim como a redundância da aposta no empreendedorismo no 1º ciclo e a mudança de discurso após a criação pelo Partido Socialista do empreendedorismo nas escolas. Foi já possível discorrer sobre a visão da direita da cultura e da extinção do Ministério da Cultura, sobre o exame da quarta classe e a demagogia da falsa exigência, sobre, enfim, muitos temas que se enquadram na actuação do PSD regional e nacional sendo que, no contexto europeu, a contínua política de austeridade de direita tem mostrado, aos olhos de todos, as consequências na vida dos cidadãos desta mercantilização social e cega obediência aos mercados. Ou seja, o Partido Social Democrata dos Açores não só não apresenta uma alternativa de renovação e de mudança necessárias ao desenvolvimento da nossa região, como também desconsidera os seus eleitores. O Partido Socialista Açores apresenta um candidato jovem, com experiência governativa suficiente para liderar os destinos da nossa região, com um grupo de apoiantes dos mais diversos quadrantes e abrangência, e tem coragem de arriscar na mudança, ciente de que é necessário renovar para crescer. O Partido Social Democrata tenta apresentar uma candidata re(nova)da e diz assim à toa que Berta Cabral só tem um ano de experiência como Secretária das Finanças. E ainda pensa que o comum eleitor não sabe que para além desse cargo, também foi deputada na Assembleia Regional e nos últimos dez anos tem exercido o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Mas pronto. Assumamos que sim, que a candidata só tem um ano de experiência – mesmo assim, prefiro quem já conhece o terreno. O Partido Social Democrata reclama mais transparência e menos confusão na destrinça das funções candidato/governante. O candidato do Partido Socialista cessa funções governativas como Secretário Regional da Economia, trazendo a mesma transparência ética com que Carlos César anunciou as razões da sua não recandidatura, mas a doutora Berta Cabral continua em funções como Presidente de Câmara. Agora já não é aproveitamento mediático de funções, é festa popular. O Partido Socialista defendeu, durante a sua governação, os interesses da região e, mesmo quando criticado por Lisboa e quando o nosso Sr. Silva (nas palavras do Alberto João) rompeu a tradição e falou sobre os Açores (porque eram os autonomistas em causa) quando se encontrava no estrangeiro, manteve a sua defesa e negociou sempre o papel dos Açores no todo nacional. A candidata do PSD promete mudanças que vão “de encontro” (vão contra, não “ao encontro”) às políticas que têm sido implementadas no continente pelo seu partido nacional, e cujas consequências estão nos ecrãs dos nossos canais – incluindo a RTP Açores – e continuamente nos mostram que uma política de austeridade para lá da “troika” não é a solução. Mas ao mesmo tempo, diz-se solidária com a tarefa patriótica que o Governo da República está a empreender. Isto é? Ainda sobre a visão social da política encabeçada por Passos Coelho (apoiada, decerto, pelo secretário de estado da cultura em minúsculas), o recente anteprojecto de lei para o sector empresarial local coloca, mais uma vez, em causa a sustentabilidade de serviços educativos, sociais e de apoio à comunidade que são desempenhados por empresas municipais. A educação, a saúde, a cultura não são bens rentáveis e autossustentáveis na sua génese. É possível torna-los mais eficientes, mas não são, em conceito, um negócio per se. Tal como com os cortes propostos no RSI, nesta matéria o Governo da República demostra uma incapacidade crassa de redução de despesa por optimização de recursos e aposta na solução mais fácil – o corte cego. E perguntamo-nos? Corte cego para todos? Não. Há excepções. Bom, não são bem excepções, são “adaptações”. Tal como o ano de 2014 é o mesmo que 2015 e “assumir-se o lapso” não é uma expressão quotidiana no vocabulário do ministro Vítor Gaspar. No fundo, um ano como Secretária das Finanças só deu para desfrutar de uma Festa do Divino Espírito Santo.