Opinião

Bordoadas e malabarismos

A resposta do ministro da Economia e do Emprego às várias solicitações para que fosse ampliada a pista do aeroporto da Horta revela bem a falta de sensibilidade para as questões insulares. Escudando-se na situação económica que o país atravessa, esquece que o crescimento económico é fundamental para sairmos da crise que este governo se mostra incapaz de ultrapassar. Investir na ampliação do aeroporto não é deitar dinheiro à rua, como o dá a entender o ministro quando afirma que “o investimento não mudará as condições de utilização” da infraestrutura. Na audição que tive na Assembleia da República com dois administradores da ANA, foi afirmado por um deles que “do ponto de vista do gestor aeroportuário, o prolongamento da pista não corresponde a uma necessidade”. Os 1700 metros que a pista comporta dá para o tráfego que ocorre, “mas se tivesse 2200 era melhor”. SE TIVESSE 2200 ERA MELHOR!!! – eis a verdade que todos reconhecem. Embora o senhor administrador tivesse garantido que não estão em causa as condições de segurança, o pedido de ampliação da pista não é um mero capricho dos faialenses. Como o próprio afirmou, a decisão é política, o que significa que a responsabilidade recai sobre este governo do PSD/CDS. A miopia política tem os seus custos e os faialenses ficam assim privados de um benefício estratégico para a ilha. Num simples despacho, deitam-se para trás das costas compromissos assumidos por diversos governos da República, adiando para as calendas gregas uma obra da máxima urgência. Na visita que efetuei ao aeroporto da Horta e nos encontros com outras forças vivas da ilha ficou bem patente a crítica unânime ao governo de Passos Coelho pela atitude tomada. “Uma bordoada que vai doer para toda a vida”, assim se lamentou um faialense. Se da parte de Gaspar e Cª pouco se pode esperar, do lado da União Europeia as perspetivas poderão ser mais animadoras, se viermos a conseguir uma nova filosofia de apoios aos transportes, no decurso das diligências que os Açores e as restantes Regiões Ultraperiféricas (RUP) têm vindo a fazer nos últimos anos, com o apoio dos seus Estados Membros, Portugal, Espanha e França. No memorando, entregue à Comissão Europeia em Maio de 2010 por Portugal, Espanha, França, e as suas sete Regiões Ultraperiféricas, é solicitado que nas áreas em que os progressos haviam sido insuficientes, como era o caso dos transportes, deveria estabelecer-se um quadro específico de intervenção de natureza semelhante à abordagem do POSEI. Esclareça-se que nesta reunião esteve presente o presidente do Governo Regional dos Açores, cujas soluções contaram com o seu empenho Passados dois anos, há um projeto de iniciativa, elaborado pelo deputado madeirense Nuno Teixeira, que propõe à Comissão de Desenvolvimento Regional a criação de um programa específico na área da energia, transportes e tecnologias da informação e comunicação, adotando as posições já apresentadas pela Conferencia dos Presidentes das RUP e pelos seus Estados Membros. Este relatório do deputado Nuno Teixeira foi enriquecido com mais de uma centena de propostas de emenda. Entre essas propostas de emenda, encontram-se as da deputada do PSD eleita pelos Açores. Neste contexto, emerge o malabarismo da senhora deputada. Numa delas, pede a anulação da parte da proposta que criava um programa específico no domínio dos transportes, para noutra proposta apelar à criação de um programa idêntico. O objetivo parecer ser claro: dar a ideia de que o PSD foi o promotor de um futuro programa que a Comissão Europeia venha a propor no domínio dos transportes para os Açores e para as outras RUP. Aproveitando este malabarismo, a presidente da Câmara de Ponta Delgada tem agitado a bandeira dum POSEI para os transportes aéreos, como se fosse a sua progenitora. A ânsia de protagonismo nesta maratona eleitoral dá origem a estes episódios caricatos. Outros virão, mas os açorianos estão precavidos e saberão distinguir o trigo do joio. E os faialenses duma forma especial, pois já perceberam perfeitamente que para desviar as atenções da bordoada que levaram do governo do PSD, ao recusar a ampliação do aeroporto da Horta, a presidente da Câmara de Ponta Delgada passou a fazer promessas para outras melhorias na mesma ilha que não passam de mera propaganda.